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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

APÓS SEMANAS DE TEMPORAIS, O AR DE OUTONO BATE NA PORTA

O leitor pôde perceber que tivemos semanas em que ocorriam temporais todos os dias, com alguns transtornos inclusive. No sábado, ainda estávamos sob a influência do ar quente e úmido sobre o estado, que chegava mais intenso da floresta amazônica por conta de uma frente fria que adentrava pelo sul catarinense, que gerava gradiente de pressão atmosférica. A figura abaixo, nos mostra a entrada já de vento sul no norte gaúcho as 9h da manhã, enquanto os catarinenses ainda experimentavam ventos de norte a nordeste.
Neste mesmo dia, formações de nuvens com alto desenvolvimento vertical se espalharam pelo estado. A imagem de satélite abaixo mostra uma dessas células sobre o sul do estado, onde a temperatura do topo das nuvens chegou a -70ºC (cor azul escuro).


O resultado foram temporais isolados. Em Criciúma, por exemplo, nas primeiras horas de chuva o pluviômetro já acumulava mais de 40mm, causando alagamentos. A sudeste da cidade, também houve alagamentos no Balneário Rincão, reduto de turistas na temporada (foto abaixo).

Balneário Rincão - SC
Em Urussanga, as primeiras horas da chuva somaram 13,6mm, totalizando 23,6mm até o fim da noite quando ainda chovia. Já Araranguá teve uma chuva mais intensa, despejando 23,6mm em menos de uma hora. 

No oeste do estado, as tempestades foram ainda mais isoladas, chegando a precipitar 14,4mm em Xanxerê, ao passo que Dionísio Cerqueira teve apenas 1,4mm. O Planalto norte teve chuva mais a noite, com maior valor em Major Vieira onde choveu 16,4mm, acompanhada de ventos de 41,4km/h na rajada.

Já ontem, a frente fria se deslocou pelo oceano e estava as 9h da manhã na altura do norte catarinense, como é notado na próxima figura.
Perceba que agora Santa Catarina tem ventos de sul a sudeste. Esses ventos chegam relativamente frios e úmidos do oceano, pela atuação de um sistema de alta pressão pós frontal, que na figura anterior é identificado pela letra A, com pressão atmosférica máxima de 1020 hPa. Essa condição de ventos úmidos, facilitou a cobertura de nuvens estratiformes em boa parte do centro-leste do estado. Tais nuvens se formam a partir do levantamento do ar úmido provocado por montanhas e a serra geral. Houve ocorrência de chuvas orográficas, muito fracas entre ontem e hoje, somando 12,8mm em Timbé do Sul (litoral sul) e 3,8mm em Joinville (litoral norte).

Esta segunda-feira amanheceu mais fria e com cara de outono nas partes mais altas do território catarinense. Na Serra, chegou a fazer 11,4ºC em Urupema, 12,1ºC em São Joaquim e 13,9ºC em Lages. No Morro da Igreja, a temperatura baixa se deu ontem no final da noite com 9,5ºC, ficando abaixo dos 12ºC durante toda a madrugada em virtude da nebulosidade. Para se ter uma idéia dessa queda, as temperaturas mínimas na região serrana estavam acima dos 18ºC até o sábado.


A nebulosidade hoje foi mais acentuada no norte e centro-oeste catarinense (imagem de satélite acima) por conta da formação de uma área alongada de baixa pressão (cavado) no decorrer do dia. Na figura a seguir é possível identificar esse cavado pelos traços pretos. O sistema começa a impulssionar novamente ar quente e úmido da floresta amazônica para essa parte do estado. Em Caibi a máxima hoje alcançou os 28,7ºC.
 Na Grande Florianópolis, Litoral Sul e Planalto Sul, o predomínio é do ar relattivamente mais ameno e úmido marítimo. Porém como ainda estamos no verão, as massas de ar mais frio não fazem efeito durante as tardes. Por isso, tivemos até um pouco de calor no litoral, por exemplo, com pico de 27,1ºC em Florianópolis. As 8 horas da manhã, tinhamos no céu da capital catarinense nuvens do tipo Altocumulus (foto abaixo), indicando início de instabilidade na média troposfera.

Florianópolis - SC
As temperaturas mínimas continuam caindo ainda mais na Serra e áreas mais altas do planalto. nas últimas Em Urupema já fazia 8ºC as onze horas desta noite. As mínimas previstas para a madrugada de terça-feira variam entre 5 e 12ºC, principalmente nas baixadas do Planalto Sul. A terça-feira, segundo o CIRAM, deve ser com sol em todo o estado, porém com aumento de nuvens no litoral e chance de chuva fraca e isolada no decorrer da noite.

DADOS: INMET, CPTEC/INPE, MARINHA DO BRASIL, EPAGRI-CIRAM, SUL NOTÍCIAS, ENGEPLUS.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

MAIOR TRAGÉDIA DO BRASIL FOI NA SERRA DAS ARARAS-RJ EM 1967

Publico hoje aqui no blog, um artigo feito por Aurélio Paiva do jornal Diário do Vale. Nele, é mostrado em fatos e fotos a tragédia que aconteceu por conta da chuva na Serra das Araras-RJ em 1967, com total de 1400 mortos, sendo maior que a deste ano na região serrana fluminense. Isso é para a mídia parar com esse sensacionalismo barato, que só serve para vender notícias, e acaba deixando o leitor mal informado.
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Aurélio Paiva
 
Uma cruz de 10 metros na subida da Serra das Araras (Piraí-RJ), no local conhecido por Ponte Coberta, marca o início de um enorme cemitério construído pela natureza. Lá estão cerca de 1.400 mortos (fora os mais de 300 corpos resgatados) vítimas de soterramento pelo temporal que atingiu a serra em janeiro de 1967. Foi a maior tragédia da história do país, superando o número de mortos da atual tragédia na Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro, hoje acima de 500.

No episódio da Serra das Araras, suas encostas praticamente se dissolveram em um diâmetro de 30 quilômetros. Rios de lama desceram a serra levando abaixo ônibus, caminhões e carros. A maioria dos veículos jamais foi encontrada. Uma ponte foi carregada pela avalanche. A Via Dutra ficou interditada por mais de três meses, nos dois sentidos.

A Revista Brasileira de Geografia Física publicou, em julho do ano passado, a lista das maiores catástrofes por deslizamento de terras ocorridos no país. O episódio da Serra das Araras, com seus 1700 mortos estimados, supera de longe qualquer outro acidente do gênero no país.

Para se ter uma idéia do que ocorreu na Serra das Araras basta comparar os índices pluviométricos. A atual tragédia de Teresópolis ocorreu após um volume de chuvas de 140mm em 24 horas. Na Serra das Araras, em 1967, o volume de chuvas chegou a 275 mm em apenas três horas. Quase o dobro de água em um oitavo do tempo.

Mas o episódio da Serra das Araras parece ter sido apagado da memória do país e, especialmente, da imprensa. O noticiário dos veículos de comunicação enfatiza que a tragédia da Região Serrana do Rio superou o desastre de Caraguatatuba em março de 1967 (ver abaixo). O caso da Serra das Araras, ocorrido em janeiro daquele mesmo ano, sequer é citado.

Até a ONU embarcou na história e colocou a tragédia atual entre os dez maiores deslizamentos de terras do mundo nos últimos 111 anos.

Caraguatatuba

O ano de 1967 foi realmente atípico. Em março, dois meses após a tragédia da Serra das Araras, outro desastre atingiu Caraguatatuba, no litoral paulista. Chovia quase todos os dias desde o início do ano (541mm só em janeiro, o dobro do normal). Do dia 17 para 18 de março, um temporal produziu quase 200 mm de chuvas em um solo já encharcado. No início da tarde de 18 de março, sábado, a tragédia aconteceu sob intenso temporal que chegou a acumular 580mm de chuvas em dois dias (Teresópolis teve 366mm em 12 dias).

Segundos os relatos da época, houve uma avalanche de lama, pedras, milhares de árvores inteiras e troncos que desceu das encostas da Serra do Mar, destruindo casas, ruas, estradas e até uma ponte. Cerca de 400 casas sumiram debaixo da lama. Mais de 3 mil pessoas ficaram desabrigadas (20% da população da época). O número de mortos - cerca de 400 - foi feito por estimativa, pois a maioria dos corpos foi soterrada ou arrastada para o mar.

Detalhe: Caraguatatuba, em 1967, era um balneário turístico de 15 mil habitantes. Dá para imaginar quais seriam as consequências se aquela tragédia ocorresse hoje, com os atuais 100 mil habitantes.

A Serra das Araras ficou "pelada" após a tragédia de 1967

Caraguatatuba - As marcas dos deslizmentos no mesmo ano de 1967

 Serra das Araras - 1967
‘Vimos mortos nas árvores, braços na lama' Bárbara Osório-MacLaren nasceu na Alemanha em janeiro de 1939. Tendo sobrevivido à II Guerra Mundial, veio para o Brasil com a família em 1950, quando tinha 11 anos, atendendo a um chamado do avô materno, que já vivia no país.

Foi morar em São Paulo, na Tijuca Paulista, fez Admissão no Externato Pedro Dolle e, quando jovem, estudou no Ginásio Salete. Frequentava o Clube Floresta: "Nos encontrávamos (com os amigos) para nadar ou praticar outro esporte", relembra.
Em 1961, mudou-se para a Inglaterra. Seis anos depois, aos 28 anos de idade, voltou ao Brasil para rever os amigos.

Já no Rio de Janeiro, em 22 de janeiro de 1967, às 23 horas, tomou um ônibus da Viação Cometa com destino a São Paulo. Um temporal desabou na Via Dutra, que acabara de ser duplicada. Nunca, naquela região, se havia visto ou iria se ver uma chuva tão forte quanto aquela que presenciava a jovem alemã e que ela relata a seguir:
- Dentro de 40 minutos, na Via Dutra, houve um temporal. O nosso ônibus já estava na subida, mas a estrada se abriu a nossa frente. Lá ficamos até a manhã do dia seguinte. Pela rádio ouvimos os gritos de pessoas em outros carros, estavam sufocando na lama.

Bárbara dá detalhes: "Pela manhã, descemos o morro a pé, vimos mortos nas arvores, braços na lama, as reportagens nos jornais falavam de mais de 400 mortos. Eu desmaiei no transporte de caminhão desta cena ao Centro do Rio. Quando acordei do coma ou desmaio, estava em Lisboa, Portugal. Em outras palavras, em vez de me levarem a um hospital no Rio, me despacharam para a Europa".
A experiência da jovem alemã, hoje com 72 anos, foi contada há dois anos em um depoimento ao site "São Paulo Minha Cidade" e dá a dimensão do que ocorreu na Serra das Araras em 1967.

Mas seu depoimento, 42 anos após a tragédia, é uma raridade. Há poucas histórias registradas sobre os acontecimentos da época, por duas razões: carência de boa cobertura jornalística, em virtude dos parcos recursos tecnológicos da imprensa no período, e o fato de que o episódio foi tão trágico que poucos sobreviveram para testemunhá-lo.
Outra das poucas histórias que sobreviveram também envolve um cidadão estrangeiro. É a história do motorista do ônibus prefixo 529 da Viação Cometa, que salvou a vida de quase todos os passageiros. O motorista, quando vislumbrou a tragédia que poderia se suceder, pediu que todos deixassem o ônibus, mas um estrangeiro recusou-se à deixar o veículo. Poucos minutos depois, uma rocha rolou e caiu sobre o ônibus, matando o estrangeiro.
Salvos: Ônibus da Viação Cometa na Serra das Araras, em 1967. Motorista só não salvou um passageiro

Advogado lembra trabalho de presos
O advogado Affonso José Soares, de Volta Redonda, que morava em Piraí na época da tragédia, lembrou que, na madrugada da tragédia na Serra das Araras, trabalhava em um habeas corpus para a libertação de sete presos. Eles haviam sido detidos, em flagrante, cerca de dois meses antes, praticando um jogo ilegal de aposta conhecido como "Jogo da Biquinha". Durante a madrugada, percebeu o barulho do estrondo, mas continuou o trabalho com o auxílio de um lampião, já que a cidade ficou às escuras por causa dos deslizamentos na serra. - Estava trabalhando no meu escritório e escutei o estrondo por volta de uma ou duas horas da manhã. Estava trabalhando intensamente em um habeas corpus para sete presos que estavam na cadeia de Piraí e, quando as luzes se apagaram, tive que usar um lampião durante a madrugada toda - lembrou.
Na manhã seguinte, segundo ele, o município foi "invadido" por passageiros do Rio de Janeiro e de São Paulo, que ficaram impossibilitados de passar pela serra devido aos desmoronamentos e crateras.
- Foi uma ocorrência de acidente muito grave. Os ônibus de São Paulo e carros do Rio entravam em Piraí e não tinham como seguir viagem. O comércio foi praticamente invadido por passageiros. A tromba d'água tinha destruído praticamente todo o acesso. Na Serra das Araras, havia crateras enormes. Demoraram quatro ou cinco meses para restabelecer a situação - lembrou.
Antes do meio dia, no dia da tragédia, o advogado lembra que foi procurado pelo delegado que pediu sua ajuda para convencer os presidiários a colaborarem no resgate das vítimas.

- O contingente da delegacia era de cinco pessoas, entre policiais militares e civis e havia necessidade imediata de pessoas para realizar o trabalho de prestar socorro às vítimas presas nas crateras. O delegado acrescentou que os presos depositavam confiança em mim e me respeitavam e que eu poderia convencê-los a ajudar - continuou.

Ao dirigir-se àquele que seria o "líder" dos presos, Affonso recordou que frisou a oportunidade de os presos mostrarem humanidade e solidariedade.
- Falei que eles estavam tendo uma oportunidade de prestar um serviço público e demonstrar espírito solidário. Mesmo assim, lembrei que se esboçassem qualquer reação de rebeldia poderiam ter sérios problemas, porque eu tinha material suficiente para incriminá-los. Eles aceitaram e pediram para dizer que estavam nas mãos do delegado - acrescentou o advogado.

Os sete presos fizeram o trabalham mais pesado do salvamento: foram amarrados por cordas e descidos até o local em que estavam às vítimas. Além de auxiliar no salvamento e nos primeiros socorros aos sobreviventes, apanhavam corpos e os traziam abraçados.
"Eles eram fortes e fizeram um trabalho que ninguém queria fazer. Trabalharam por 48 horas e voltaram à delegacia para ajudar na parte burocrática", frisou Affonso.

Dias depois, por intermédio de um escrivão piraiense que vinha de São Paulo, Affonso descobriu que o trabalho executado pelos presos havia ido parar na primeira página do Jornal da Tarde com o título "Os sete homens bons". Sem pestanejar, anexou a reportagem ao processo que estava organizando.
- Apanhei a primeira página do Jornal da Tarde e juntei ao habeas corpus e tenho certeza que isso contribuiu para obter a liberação deles. Eles demonstraram seu lado humano, o de quem não é só criminoso, bandido - explicou.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

INSTABILIDADES PRÉ FRONTAIS PROVOCAM CHUVAS LOCALMENTE FORTES EM SANTA CATARINA

Nesta sexta-feira, uma frente fria adentrou no extremo sul do Brasil, associada a um ciclone extratropical no mar na altura do estuário do rio da Prata. Na figura abaixo, o sistema é ilustrado. 
Perceba que os ventos próximos ao litoral catarinense estão mais intensos, principalmente no sul, onde a velocidade chega a valores de 50km/h. Em Laguna, por exemplo, a estação meteorológica do INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) chegou a ter em média ventos da ordem de 60km/h durante o dia de hoje (gráfico abaixo), sendo que a rajada máxima alcançou 70km/h na madrugada.

Se as direções desses ventos em superfície são de nordeste, a 1500 metros eles chegam de noroeste, caracterizando o Jato de Baixos Níveis, que traz umidade e calor da floresta amazônica para o estado. Por força da frente fria e do ciclone, esse jato ganha mais força e provoca instabilidades pré frontais. Na figura de análise de ventos das 9 horas desta sexta-feira, a parte mais forte do Jato estava entre o Paraguai, Mato Grosso do Sul e oeste do Sul do Brasil.
O resultado foram chuvas fortes sobre algumas partes de Santa Catarina. Entre o final da madrugada e início da manhã, o município de Luiz Alvez, no Vale do Itajai, foi atingido por forte chuva, a qual causou alagamentos (foto abaixo). Cerca de 80% do município ficou debaixo d'água, obrigando familias a sairem até com ajuda de helicópteros. A chuva forte foi tão isolada, que enquanto Luiz Alvez acumulou 80mm, em Massaranduba não foi registrado mais que 11,8mm!

Luiz Alvez - SC
No norte do estado a chuva se concentrou na primeira metade do dia, sendo bem mal distribuída. Chegou a chover 49,2mm em Itapoá e poucos 9,1mm em São Francisco do Sul. Durante a tarde de hoje, as regiões a serem duramente atingidas pelas nuvens com alto desenvolvimento vertical foram o oeste, meio-oeste e principalmente o sul do estado. A foto abaixo, mostra o céu de Criciúma na chegada da tempestade por volta das 15h.

Criciúma - SC
No oeste, choveu 44mm durante o temporal que teve início no meio da tarde em Dionísio Cerqueira. Em Novo Horizonte, a tempestade se deu as 18h, com acumulado de 38mm na estação automática do CIRAM (Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina). Seguindo até o meio-oeste, a chuva mais intensa se deu em Caçador com 26,2mm.

No sul do estado, durante praticamente todo o dia de hoje o município de Morro Grande teve um total de precipitação de incríveis de 259,2mm, sendo que a média climatológica esperada para todo o mês de fevereiro é de 190mm. Em Timbé do Sul, localizada na encosta da Serra Geral, a chuva se concentrou agora a noite, somando 89,6mm em menos de 6 horas de duração, o que representa metade do esperado para este mês. Comunidades estão alagadas e está complicado o deslocamento de crianças até as escolas. Em Içara, a chuva forte da tarde trouxe alagamentos e transbordamentos de córregos (foto abaixo). Como não estação lá e essas chuvas intensas são extremamente localizadas, fica difícil levar como parâmetro outras cidades próximas como Criciúma, onde choveu 21,4mm por um longo período. 

Içara - SC
A imagem de satélite nos evidencia essa condição, destacando as nuvens com topos frios de até -80ºC.


Amanhã, a tendência é que continuemos sob a influência das instabilidades pré frontais. No domingo a frente fria nos alcança, trazendo chuvas mais generalizadas, mas de caráter forte localmente, associada a temporais e granizo. Na próxima semana, a circulação marítima deve deixar as nuvens mais estratiformes no litoral.

DADOS: INMET, CPTEC/INPE, EPAGRI-CIRAM, MARINHA DO BRASIL, ENGEPLUS, DIÁRIO CATARINENSE

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

CHUVAS EXCESSIVAS EM SC; RECORDE DE GELO NA ANTÁRTIDA; DERRETIMENTO DAS GELEIRAS DO ÁRTICO. HÁ RELAÇÃO?

O fenômeno La Niña é o resfriamento das águas equatoriais do oceano Pacífico leste, e que reflete em diminuição significativa das chuvas no Sul do Brasil. Isso acontece devido a mudança no padrão de circulação atmosférica, que favorece a diminuição na velocidade das chamadas correntes de Jato Subtropical (ventos fortes a 10km de altitude) e assim a passagem mais rápida  e pouco chuvosa de sistemas frontais. Entretanto, pelo menos nos últimos três meses, estamos tendo o contrário do que era esperado, ou seja, a chuva está além da média climatológica em Santa Catarina. Se analizarmos os dados de precipitação acumulada em relação ao normal durante o mês de janeiro desse ano, veremos anomalias positivas sobre todo o centro-leste do estado (figura abaixo), sendo que no Vale do Itajai o desvio passou dos 200mm.


Se estamos sob a influência do La Niña, no mínimo as chuvas deveriam estar em torno do normal e abaixo disso. Porém um outro fator está trabalhando junto: o oceano Atlântico. Isso mesmo! O oceano Atlântico está cerca de 1,5ºC mais quente que o normal sobre a a costa sul do Brasil, além da costa uruguaia e argentina. Na figura abaixo, com anomalias de temperatura superficial do mar, vemos essa "mancha" anômala (cor avermelhada) destacada neste parágrafo.
Perceba que essa mancha vermelha também é percebida quase na mesma latitude sobre o hemisfério norte. Coincidência ou não? Segundo o meteorologista e membro brasileiro da OMM (Organização Meteorológica Mundial) Luiz Carlos Baldicero Molion, esse aquecimento anormal das águas do oceano Atlântico é provocado pelo ciclo lunar de 19 anos. No pico desse ciclo, o campo gravitacional da lua sobre a terra aumenta, fazendo os oceanos terem uma elevação de 12cm em seu nível entre as latitudes 30º do hemisfério norte e 30º do hemisfério sul, ou seja, toda a faixa tropical do planeta. Essa elevação foi comprovada em 2007 e 2008 no estado do Alagoas. É bom deixar claro que esse fator se soma a mudança no curso de rios e ocupação humana desordenada nas regiões costeiras.

Com o nível do mar mais alto na faixa tropical do planeta Terra, cria-se um desnível entre essa região e as latitudes mais altas, formando uma rampa. Essa rampa aumenta a velocidade das correntes marítimas quentes que saem do equador, que conseguem assim alcançar regiões como a costa da Argentina e oceano glacial Ártico. Dai aquelas manchas de água mais quente mostrada anteriormente. No Ártico, a corrente marítima do Golfo atinge velocidade maior em função dessa rampa, conseguindo então passar por baixo das geleiras e derrete-las. Por isso se falou tanto em derretimento de geleiras do Ártico nos últimos três anos. No gráfico abaixo, é possível ver que a cobertura de gelo no Ártico teve o menor valor desde 1979.
Agora, o que pouco se divulga é a cobertura recorde de gelo na Antártida (gráfico abaixo), ou seja, o contrário do que está ocorrendo no Polo Norte, sobretudo em 2010. Isso acontece porque como o oceano Atlântico Sul está mais quente que a média até aproximadamente o Círculo Polar Antártico, isso cria maior evaporação. Por meio de ciclones, esse vapor d'água chega até o continente Antártico, onde o frio intenso forma precipitações na forma de neve, aumentando a cobertura de gelo/neve sobre esse continente.
Na costa catarinense vimos na segunda figura deste post, que a temperatura superficial do mar está 1,5ºC mais alta que a média. Isso acaba gerando mais evaporação e formação de áreas de baixas pressões que seguidamente trazem tempo instável, com chuvas e temporais. Por falar em pressão baixa, segundo os mapas do CPTEC/INPE, os valores médios de pressão atmosférica durante o mês de janeiro ficaram até 4 hPa abaixo da média climatológica sobre o Sul do Brasil, como mostra a figura abaixo (área selecionada).


Pressões mais baixas também causam ingresso de umidade da floresta Amazônica. A ZCAS (Zona de Convergência do Atlântico Sul), que todos os verões atua provocando grandes precipitações entre o norte e sudeste do Brasil, chegou a descer até a altura do norte catarinense no início deste mês (figura abaixo), visto que este sistema está associado com temperaturas oceânicas mais altas, convergência de umidade amazônica e frentes estacionárias no alto mar. 


O La Niña , segundo o CPTEC/INPE, deve perdurar até o meio deste ano, contribuindo para um outono com frio de inverno. Porém o Atlântico deve exercer papel nesse contexto, deixando o Outono mais úmido no litoral e sujeito a granizo acima da média devido ao ar frio da estação.

DADOS: CPTEC/INPE, EPAGRI-CIRAM, MARINHA DO BRASIL, NOAA

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

CHUVA FORTE E LOCALIZADA CAUSA ALAGAMENTOS EM SANTA CATARINA

A área alongada de baixa pressão atmosférica (cavado) permaneceu atuando sobre Santa Catarina ainda nesta terça-feira, como era previsto. Na figura abaixo, é possível notar esse sistema pelos traços pretos.
Esse cavamento de pressão atmosférica em superfície é ocasionado pela atuação do Jato Subtropical, que são ventos fortes a mais de 10km de altitude na troposfera. Esse jato estimula a ascenção do ar superficial e a consequente queda de pressão nas camadas inferioes da troposfera. Na próxima figura, vemos que a velocidade desses ventos sobre Santa Catarina chega a 140km/h.

Com a pressão baixa, ventos quentes e úmidos continuam chegando da floresta amazônica numa altitude de 1500 metros, que pode ser observado na figura abaixo. Note que a direção é entre noroeste e oeste.

Com a presença ainda do ar quente e úmido, o dia foi quente e novamente abafado no estado. A máxima se deu em Indaial com 33,6ºC, seguida de Itajai com 30,8ºC. No decorrer da tarde as nuvens ganharam alto desenvolvimento vertical, o que provocou temporais localizados. Em Criciúma, o temporal da tarde despejou incríveis 93,0mm no pluviômetro da estação do CIRAM, sendo que somente no horário das 16h choveu 43,2mm! O resultado foram alagamentos, como os mostrados abaixo sobre a rodovia Luiz Rosso.

Criciúma - SC
Já em outras áreas próximas a Criciúma tiveram bem menos chuva, como Meleiro e Urussanga onde choveu 26,6mm e 13,4mm, respectivamente. Ao mesmo tempo ocorriam temporais isolados também na Grande Florianópolis. Pela imagem de satélite abaixo, podemos ver a linha de instabilidade que ia desde a serra até a costa.


Os valores de precipitação divergiram bastante. Em São José choveu 20,6mm, enquanto que em Biguaçu apenas 7mm. Até mesmo dentro da capital catarinense houve diferenças significativas. No bairro Capoeiras a chuva acumulou 23,4mm, ao passo que no bairro Itacorubi não mais que 9,1mm. Outro detalhe foi o vento intenso que acompanhou a precipitação, chegando a 52,5km/ħ na Praia Comprida em São José.

Logo mais a noite as tempestades se aproximaram no Vale e Norte catarinense, com chuva muito forte em São Francisco do Sul, onde choveu incríveis 90,2mm entre as 19h e 21h, sendo que só na primeira hora de precipitação o pluviômetro já acusava 57,1mm! Com mesma duração, porém mais cedo, Joinville teve 52,8mm acumulados no pluviômetro do CIRAM. Em Blumenau choveu mais de 50mm durante o temporal, com ventos de 46,7km/h registrados pela estação da RBS Meteorologia. Tais ventos provocaram queda no fornecimento de energia elétrica na cidade e também em Timbó e Rio dos Cedros. No Médio Vale, Indaial teve 41,6mm de precipitação por volta das sete horas da noite.

A imagem de satélite abaixo mostra a nebulosidade que provocou a chuva forte no Norte e Vale, destacando os topos frios dessas nuvens, com temperaturas de até -70ºC.


Para a quarta-feira a tendência é da continuidade do tempo quente e úmido por conta do cavado. Há risco de temporais com chuva forte e localizada, associada a ventos fortes e possível queda de granizo.

DADOS: INMET, CPTEC/INPE, EPAGRI-CIRAM, ENGEPLUS, DIÁRIO CATARINENSE

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

CAVADO GERA NUVENS VERTICAIS ASSOCIADAS A TEMPORAIS EM SC

Entre ontem e hoje tivemos a passagem de uma frente fria pelo mar na altura da costa sul do Brasil. Sobre o continente, um cavado (área alongada de baixa pressão) atuava. Na figura abaixo, o cavado é representado pelos traços pretos, onde há um alongamento nas isóbaras, ou seja, as linhas que delimitam pressões equivalentes.
Esse cavado era observado até uma altitude de quase 2000 metros, o que favoreceu o alinhamento do Jato de Baixos Níveis com o Sul do Brasil, trazendo assim calor e umidade da Amazônia para Santa Catarina (figura abaixo).
E que calor! Principalmente o abafamento, provocado pela umidade alta. Em Urussanga no sul, por exemplo, as 13h fazia 29,4ºC, mas com a umidade de 66% a sensação térmica chegou a 33ºC. Acompanhe na tabela a seguir, as temperaturas máximas registradas hoje em algumas cidades catarinenses, nas estações do CIRAM (Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina) e INMET (Instituto Nacional de Meteorologia).

Cidade (ESTAÇÃO)Temperatura máxima (ºC)
Florianópolis (CIRAM)32,0
Itajaí (CIRAM)31,8
Abdon Batista CIRAM)31,5
Massaranduba (CIRAM)31,4
Chapecó (CIRAM)31,4
Criciúma (CIRAM)30,7

Com o levantamento do ar através do cavamento de pressão atmosférica, a chegada da massa úmida da Amazônia e o aparecimento do sol, tornou-se possível a formação de nuvens com desenvolvimento vertical ao longo do dia sobre boa parte de Santa Catarina. Já ontem a tarde, essa mesma condição resultou num forte temporal em Criciúma, acumulando 23,4mm em pouco. Devido a urbanização, alagamentos se formaram (foto abaixo). 

Criciúma - SC
Já hoje, as nuvens se formaram com ainda mais velocidade, como mostra a animação de imagens de satélite a seguir, onde é possível ver nuvens com topos frios de até -70ºC. 


O município de Timbé do Sul enfrentou alagamentos (foto abaixo). A estação do CIRAM registrou 25,8mm de precipitação, porém medições de um agricultor apontam 135mm em três horas de duração. Ainda no sul do estado, a chuva forte chegou a Turvo, acumulando 65,2mm na estação automática do CIRAM. Em Urussanga, uma só pancada por volta das 16h, somou 34,2mm no pluviômetro.

Timbé do Sul - SC
No meio-oeste, por volta das 17h, o município de Abdon Batista recebeu um forte temporal com ventos de 46,8km/h e um acumulado de chuva de 79mm em pouco tempo! Em Celso Ramos choveu 58,8mm, com ventos menos intensos. Agora a noite, foi a vez do norte catarinense e Vale terem temporais isolados. Em Joinville, por exemplo, os 19,8mm foram suficientes para alagar a cidade, como mostra a foto abaixo.

Joinville - SC
Em Itapoá também choveu forte, com total de 17,8mm. Já São Francisco do Sul, que fica próximo, teve apenas 4,3mm acumulados. Divergências de valores também na Grande Florianópolis. Choveu 6,8mm em São José, mas apenas 1mm na capital.

A tendência é que o calor e abafamento permaneçam em Santa Catarina. O cavado terá deslocamento lento e por isso o tempo fica instável, sujeito a pancadas de chuva associadas a temporais isolados.

DADOS: INMET, CPTEC/INPE, EPAGRI-CIRAM, ENGEPLUS, A TRIBUNA, A NOTÍCIA.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

RELATO DAS FÉRIAS: TEMPESTADES EM ORLEANS E REGIÃO

Olá internautas que acompanham o blog Paulo Tempo.Voltei da viagem que fiz até Orleans no sul de Santa Catarina. Fiquei lá por 15 dias e consegui capturar algumas tempestades, inclusive com registro de nuvem funil. Aqui nesta postagem, você verá o relato de cada uma delas, com fotos exclusivas, imagens de radar e de satélite.

Dia 04/02

A situação sinótica do dia apresentava em superfície uma frente fria na altura do Uruguai. A 1500 metros de altitude, havia as correntes de vento quente e úmido proveniente da floresta Amazônica. A divergência de ventos nos altos níveis da troposfera ajudava a levantar o ar dos baixos níveis e acelerar o ingresso da massa quente e úmido para o estado.

Ao fim da tarde as nuvens cresceram, como é visto na imagem de satélite abaixo.

O radar meteorológico do Morro da Igreja já detectava a célula formada entre a encosta da Serra Geral e Sul do Estado, com valores entre 30 e 40 dBZ de reflexão, denotando intensidade moderada. Confira abaixo:


A primeira chuva observada avançava da Serra, mas alcançou apenas o norte do interior de Orleans, seguindo  até São Ludgero e Braço do Norte. Do alto de um morro na rodovia SC-446, tirei fotos da cortina de chuva.


Logo depois, perto das seis horas da tarde, uma bela nuvens Cumulunimbo avançava de sudoeste, com cortina de chuva. Confira na próxima foto.


A chuva mais forte ficou ao sul de Orleans e em Urussanga. Logo depois, de a tempestade ir embora apareceram as nuvens do tipo Mammatus (foto abaixo), que tem esse nome devido ao especto de mamas no céu. Diferente da maioria das nuvens, as Mammatus se forma  em ar descendente, onde os cristais de gelo sofrem fusão.


Dia 09/02

No dia 9, uma frente fria ingressava pelo litoral sul do estado, associada a um ciclone extratropical no mar na altura do estuário do rio da Prata. Esse ciclone tinha suporte dinâmico favorecido por um Vórtice Ciclônico na média troposfera (5km de altitude). Uma banda intensa de nuvens com alto desenvolvimento vertical se formava entre o meio-oeste e sul do estado. Sobre Orleans e região, o topo dessas apresentava temperatura de até -70ºC, como é visto na imagem de satélite abaixo.

As fotos abaixo, mostram a nuvem Cumulunimbus chegando, com cortina de precipitação a sudoeste e oeste.


Na parte sem chuva, onde o ar ascendia, formou-se uma nuvem funil, vista na foto a seguir.

O funil logo se dissipou. A chuva chegou moderada em Orleans, mas com raios fortes, sendo que um inclusive danificou alguns aparelhos da rádio local. A chuva se estendeu de forma fraca pela noite e parte da madrugada seguinte.

Dia 13/02

O dia 13 foi influenciado pela atuação da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) sobre o leste catarinense. Esse sistema é formado a partir de uma frente estacionária no oceano, que causa um corredor de umidade entre a Amazônia e Santa Catarina. O dia foi marcado pela nebulosidade, que deixou o sol aparecer em Orleans no começo da tarde, mas que foi responsável por novas áreas de convecção. Perto das 15h uma pequena frente de rajada avançou de sul em direção a Orleans, como mostra a foto abaixo.


Houve rajadas de vento, porém as montanhas canalizaram o vento para as cidades ao sul do município. Na imagem de satélite a célula aparecia pequena, porém devido a falta de imagens de radar desse dia, ficamos sem mais detalhes.


DADOS: CPTEC/INPE, MARINHA DO BRASIL
FOTOS: Paulo Ricardo Hames - Blog Paulo Tempo