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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

FORMAÇÃO DE FRENTE FRIA NO LITORAL CATARINENSE FAVORECEU NOVA MASSA DE AR FRIO

A área de baixa pressão que gerou o Sistema Convectivo de Mesoescala entre a sexta-feira e sábado, acabou evoluindo e formando uma frente fria associada a um sistema de baixa pressão (letra B) organizado no mar a leste da costa catarinense, como mostra a figura abaixo, com análise de pressão atmosférica e ventos a superfície as 10h de ontem. Veja que o anticiclone pós frontal (centro do ar frio) já estava posicionado no leste argentino (letra A).
Esse foi o motivo de ter ventado bastante durante a tarde de domingo e também nesta segunda-feira. As rajadas máximas nas últimas 49 horas foram de 79,9 km/h em Laguna, 74,5 km/h em Florianópolis (Lagoa da Conceição), 38,1 km/h em Urussanga e 37,8 km/h em Balneário Camboriú. Os dados são de estações do CIRAM, INMET e algumas particulares avaliadas pelo blog. 

Do centro para o sul do estado, a saída gradativa da nebulosidade associada a nova frente fria recém formada, proporcionou aberturas de sol. Isso é evidenciado na foto abaixo, enviada de Orleans por nosso colaborador José Luiz Mattei.
Orleans-SC
Durante a tarde, essas aberturas de sol, também permitiram observar as nuvens altas do tipo cirrus, formadas por cristais de gelo em suspensão. Como tinhamos intenso cisalhamento, que é a diferença brusca de direção e velocidade do vento com a altitude, essas nuvens cirrus tomaram formas que as denunciam com Cirrus Uncinus. Um bom índice de instabilidade para notar esse forte cisalhamento vertical do vento, é o Sweat. Na figura de análise das 10h de ontem (abaixo), observa-se que os valores estavam muito altos sobre o centro-leste catarinense, superiores a 360. Tivesse ainda convecção e umidade mais alta, até um tornado poderia ter se formado.
Na imagem do satélite Aqua com o sensor Modis em alta resolução, pode-se ver essas nuvens Cirrus Uncinus aparecem bem na retaguarda da instabilidade. Elas tem um formato parecendo voltas.


Na manhã desta segunda-feira, o ingresso do ar mais frio trouxe temperaturas baixas. A menor se deu em Urupema com 0,8ºC, seguida de Urubici (Morro da Igreja) com 2ºC. Nas demais cidades fez 3,3ºC em São Joaquim, 4,2ºC em Bom Jardim da Serra, 4,3ºC em Caçador, 5,1ºC em Campo Belo do Sul e 5,3ºC em Tangará. O leste teve temperaturas variando entre 10,5ºC em Jacinto Machado até 17,5ºC em São Francisco do Sul.

Como o anticiclone pós frontal (centro do ar frio) deslocou seu centro para o mar na altura da costa da Argentina, seus ventos começaram a entrar de sudeste no Litoral Sul catarinense e parte da Grande Florianópolis, como pode-se ver na figura de análise das 10h de hoje. Note que as velocidades ainda estavam significativas, na casa dos 50 km/h alguns pontos do Litoral do estado. 
Essa configuração sinótica, proporcionou a advecção de umidade marítima para as regiões onde atuava o vento sudeste. Como o relevo é acidentado, o ar úmido e frio tende a subir forçadamente para as montanhas, onde sofre expansão e resfria-se adiabaticamente, culminando na formação de nuvens baixas (orográficas). A imagem de satélite abaixo, agora do satélite Terra com sensor Modis, apresenta bem essa nebulosidade. Segundo as estações do CIRAM e INMET, choveu 9,6mm em Laguna, 3,6mm em Urussanga e Timbé do Sul, 1,8mm em Criciúma e 0,4mm em Meleiro.  


Em Orleans, a mudança nas condições do tempo foram registradas em imagens pela câmera do nosso colaborador José Luiz Mattei. A primeira foto foi tirada as 08h:30, ao passo que a segunda foi as 09h:52.
08h:30 em Orleans-SC
09h:52 em Orleans-SC
Durante a tarde o céu ficou ainda mais encoberto em Orleans e região, o que pode ser visto na foto de José, próximo das seis horas da tarde. 


Devido a diferença de relevo entre o centro-oeste e centro-leste catarinense, a umidade marítima só consegue atuar no leste, pois quando ela ultrapassa a região serrana, o ar úmido vai perdendo vapor d'água e se ressecando. Por isso as imagens de satélite mostravam tempo bom no Oeste, Meio-Oeste e boa parte do Planalto Serrano.

As temperaturas ficaram amenas durante a tarde na maior parte do estado. As maiores máximas foram de 25ºC em Indaial, 23,7ºC em Massaranduba e Itajaí, 22,6ºC em Criciúma, 22,4ºC em Porto União, 21,9ºC em Joaçaba e 21ºC em Dionísio Cerqueira. 

DADOS: INMET, CPTEC/INPE, EPAGRI-CIRAM, MARINHA DO BRASIL, NOAA
Mapas de criação própria

sábado, 29 de outubro de 2011

SISTEMA CONVECTIVO DE MESOESCALA TROUXE TEMPORAIS PARA SC

Entre a noite de ontem e durante este sábado, Santa Catarina teve a atuação de um Sistema Convectivo de Mesoescala - SCM, que é um aglomerado de tempestades unidas entre si, com explosivo desenvolvimento vertical. Os SCM's duram em média entre 10 e 20 horas, desde sua formação até a dissipação. O que impulsionou a formação desse sistema foi a atuação do Jato Subtropical (ventos fortes em altos níveis da troposfera) e a corrente de jato em baixos níveis da troposfera advinda da floresta amazônica. O primeiro agente, provoca difluência no escoamento de ventos na alta troposfera, que pode ser identificada na figura abaixo, onde os ventos divergem em sentido sobre o Sul do Brasil.
Essa divergência estava aliada com circulação ciclônica em baixos níveis, que favorecia a atuação da corrente de jato de baixos níveis, a qual transportava uma massa de ar quente e úmido da floresta amazônica para a área do SCM. Esse vento amazônico, é visto na próxima figura, onde os ventos mais fortes estão na cor avermelhada.
Na animação de imagens de satélite abaixo, no canal infravermelho realçado do satélite GOES-12, podemos ver a evolução do SCM, que começou como uma pequena célula convectiva por volta das 23h:30 de ontem.

Os SCM's não só provocam temporais, mas também grandes acumulados de chuva em poucas horas. Isso acontece porque a camada úmida é bastante espessa nesses sistemas, chegando a avançar até acima da média troposfera. Na figura abaixo, temos um perfil vertical de umidade relativa de oeste a leste sobre o estado catarinense na análise das 10h deste sábado, formando uma linha sobre a latitude 27ºS. Veja que os valores superiores a 60% vão desde a superfície até uma altitude de 12km.
Em Joaçaba, por exemplo, chegou a precipitar 105mm entre as 00h e 11h de hoje, ou seja, quase a precipitação do mês em menos da metade de um dia. O vento por lá alcançou os 68 km/h durante duas rajadas. O radar meteorológico da aeronáutica (figura abaixo), localizado no Morro da Igreja em Urubici, detectava refletividade de até 60 dBZ (cor vermelho escuro) as 05 horas da manhã em alguns pontos do Meio-Oeste, indicando chuva muito forte naquele momento. Na área havia chuvas fracas (verde) e moderadas (amarelo) também.

Na tabela abaixo, vocẽ confere outros valores de precipitação em 24 horas, nas estações do CIRAM (Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina) e INMET (Instituto Nacional de Meteorologia).
Cidade (ESTAÇÃO Chuva 24 horas Região
Joaçaba (INMET)113,6Meio-Oeste
Dionísio Cerqueira (INMET)77,6Oeste
Novo Horizonte (CIRAM)74,6Oeste
Rio das Antas (CIRAM)69,4Meio-Oeste
Caçador (CIRAM)64,8Meio-Oeste
Tangará (INMET)64,8Meio-Oeste
Porto União (CIRAM)59,0Planalto Norte
Major Vieira (INMET)59,0Planalto Norte
Água Doce (CIRAM)58,2Meio-Oeste


Houve granizo isolada em algumas cidades do Oeste e Meio-Oeste. O número de descargas elétricas, comuns obviamente em SCM's, foi grande. A imagem de detecção de raios pelo CPTEC (Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos) em conjunto aos detectores da rede RINDAT (Rede Integrada de Detecção de Descargas Atmosféricas), nos mostra claramente a situação.

No leste do estado, o SCM provocou mais nebulosidade do que chuva, sendo que em muitas áreas sequer choveu. Foi o caso de Orleans, que teve tempo encoberto, mas sem qualquer registro de precipitação. Acompanhe na foto abaixo, enviada por nosso colaborador José Luiz Mattei.

Orleans-SC
Nesta noite, o sistema ainda vem provocando tempestades, porém mais concentradas entre o PR e Sudeste do país. O SCM está se convertendo a uma onda frontal, devido a advecção de ar frio em sua retaguarda.

DADOS: INMET, CPTEC/INPE, EPAGRI-CIRAM, MARINHA DO BRASIL.
Mapas de criação própria

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

SEXTA-FEIRA AMANHECEU PERTO DE ZERO GRAU NA SERRA

Estamos em outubro, mês de primavera e sempre ligado a dias quentes. Esse pensamento pode ser enganoso no meio popular, pois a primavera possui ainda noites frias, sobretudo na primeira metade da estação. Essa condição de frio tardio é ainda mais acentuada quando temos um início de La Niña (resfriamento anômalo das do oceano Pacífico leste e equatorial), cujo fenômeno voltou a se estabelecer nesse mês, após uma condição de neutralidade registrada durante o inverno. 
No gráfico acima, temos os valores de anomalia de temperatura do mar em relação a média climatológica, sobre a região chamada Nino 3.4, que corresponde a área entre as longitudes 165ºW e 120ºW sobre a linha do equador. Veja que na última semana, o valor era negativo com -0,68ºC, indicando a presença fraca do La Niña, pois o parâmetro de classificação é abaixo de -0,5ºC.

O ciclone extratropical que se formou no sudeste gaúcho e está agora no oceano Atlântico, foi quem impulsionou o ingresso de ar mais frio e seco para Santa Catarina. A figura abaixo mostra a posição tanto do ciclone (letra B) quanto do anticiclone pós frontal (letra A).
Na imagem do satélite Terra com o sensor Modis em alta resolução, podemos ver o sistema frontal completo associado ao ciclone extratropical em alto mar (clique aqui para ver imagens dos últimos minutos). Veja que sobre Santa Catarina, o anticiclone impede a formação de nuvens, com exceção de algumas poucas no litoral do estado, que na verdade são nevoeiros ou nuvens stratus.
No Planalto Sul catarinense, tivemos o efeito dos vales e baixadas, onde o ar frio mais denso se deposita durante o período noturno, acentuando o frio nessas áreas. Em São Joaquim, por exemplo, esta sexta-feira amanheceu com temperatura mínima de 2,0ºC numa região mais baixa da cidade, ao passo que num topo a estação do INMET registrou 6,8ºC. A menor temperatura do estado, contudo, foi em Bom Jardim da Serra e Urupema, com 0,7ºC e 0,9ºC, respectivamente.

Como essas temperaturas do parágrafo anterior são registras por padrão a 1,5m de altura, a temperatura na altura do solo, ou seja, mínima da relva, teve valores negativos. Isso favoreceu o congelamento do orvalho e assim formando a geada, como ocorreu em Urupema (foto abaixo). Foi a segunda geada desse mês de Outubro no município, sendo considerada tardia e associada a condição de La Niña.
Geada em Urupema-SC
Em algumas áreas como sul do estado, as baixadas favoreceram o encontro da temperatura do ar com a do ponto de orvalho, culminando na formação de nevoeiros. O fenômeno foi registrado em Orleans, na foto do nosso colaborador José Luiz Mattei as 08h15.
Nevoeiro em Orleans-SC
Após as 09h o nevoeiro havia sido convertido para uma névoa úmida apenas nas montanhas, deixando a cidade mais visível. O colaborador José Luiz Mattei novamente clicou e nos mandou a foto (abaixo). O calor latente liberado na condensação do vapor d'água na formação do nevoeiro, aqueceu o ar e deixou o dia bastante quente.
Após nevoeiro, restou a névoa úmida em Orleans-SC
Se a manhã teve dígitos próximos de zero grau na Serra, o contrário aconteceu a tarde em muitas regiões do estado, sobretudo no Vale. Tudo graças ao ar seco. A maior temperatura foi de 31,5ºC em Itajaí, seguida de Indaial com 31,3ºC. Nas outras cidades fez 30,8ºC em Massaranduba, 30ºC em Porto União, 29,1ºC em Três Barras, 28,4ºC em Ituporanga e 27,1ºC em Criciúma.

Recentemente foi noticiado sobre a iminente erupção do vulcão chileno Hudson, que desde 1991 estava inativo. O vulcão está expelindo bastante cinzas e a pergunta é se elas pode chegar aqui em Santa Catarina. Olhando os campos de vento na média troposfera, ou seja, a 6km de altitude, observa-se que eles não favorecem por enquanto a chegada das cinzas do vulcão Hudson ao território catarinense. Vale ressaltar a importância em saber a altura das cinzas, o que ainda não foi avaliado.
Assim que a situação se alterar, ou seja, houver mudança na direção dos ventos que facilite a chegada das cinzas, estarei atualizando e trazendo informações aqui neste blog, de forma técnica e sem sensacionalismo.

DADOS: INMET, CPTEC/INPE, EPAGRI-CIRAM, MARINHA DO BRASIL, NOAA, PREFEITURA DE URUPEMA
Mapas de criação própria

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

EFEITOS DO CICLONE EXTRATROPICAL EM SANTA CATARINA

Com a intensificação do cavado (área alongada de baixa pressão atmosférica) na alta troposfera, este se converteu em um Vórtice Ciclônico de Altos Níveis - VCAN (sistema de baixa pressão fechado na alta troposfera), observado na figura acima. Isso favoreceu também a intensificação do ciclone extratropical, que teve decréscimo de sua pressão atmosférica, sendo que na análise de ontem pela manhã, o valor era de 996 hPa (figura abaixo).
Veja que a posição do ciclone extratropical, fazia com que os ventos predominassem de oeste a sudoeste em Santa Catarina. Esses ventos tem origem num anticiclone frio na Argentina. Como o ciclone está no oceano, esses ventos além de serem frio, são também úmidos, cujo os quais entravam em Santa Catarina pelo Oeste e Meio-Oeste (região de planalto), formando nuvens, como vê-se na imagem do canal visível do satélite GOES-12.
Aquela nebulosidade mais significativa entre o Planalto Sul e Litoral Sul catarinense, é a parte oclusa do sistema frontal, ou seja, a área onde há o encontro do ar mais fresco oceânico com o ar frio advindo da Argentina, fazendo todo o ar quente se elevar e formar nuvens, que inclusive eram até bem desenvolvidas. Tivesse mais frio, poderia até acontecer neve. Olhando um perfil vertical de umidade relativa (linha verde) em Orleans (litoral sul), vemos que os valores mais altos alcançavam iam dos baixos níveis até uma altitude de 6km, ou seja, o topo das nuvens.
Como a neve não ocorreu, a chuva foi registrada, sobretudo logicamente na parte de oclusão frontal. Os acumulados mais altos do estado foram de 23,2mm em São Joaquim, 13,6mm em Urupema, 12,2mm em Nova Veneza, 7,2mm em Curitibanos e 7,1mm em Tangará. Em Araranguá, o céu depois da pancada de chuva era esse, na foto de Filipe de Souza, colaborador do blog Paulo Tempo.
Araranguá-SC
O ar frio e úmido que entrava pelo Oeste e Meio-Oeste catarinense, comentado anteriormente, ao descer a Serra em direção ao litoral, foi sofrendo compressão devido ao encontro com pressões do nível do mar, resultando num aquecimento adiabático (sem troca de calor). Isso refletiu no aumento das temperaturas e ressecamento do ar, por isso praticamente não havia nuvens entre a Grande Florianópolis, Vale e Norte do estado (vide satélite). Pela manhã e começo da tarde, a diferença entre as temperaturas do Planalto e do Leste eram significativas. Para se ter uma idéia, as 9h da manhã fazia 26,2ºC em São José (Litoral), ao passo que Xanxerê (Oeste) tinha 14ºC. As próprias temperaturas máximas de ontem, foram em maioria no Leste do estado, com registro de 33,8ºC em São Francisco do Sul, 31,3ºC em Massaranduba, 30,4ºC em Itajaí, 27,9ºC em São José e 27ºC em Florianópolis.

Com o avanço do ciclone extratropical no sentido sudeste um pouco mais para alto mar (figura abaixo), os ventos acabaram virando para sul no Planalto e sudoeste em todo o Litoral catarinense, fazendo o ar frio ingressar, primeiramente do Oeste a Serra. A parte oclusa do ciclone, que estava no Planalto Sul e Litoral, migrou e se posicionou entre a Grande Florianópolis e oceano Atlântico adjacente. Isso resultou em aumento de nuvens e pancadas de chuva, como aconteceu na capital por volta das 13:30, onde a estação do CIRAM no bairro Itacorubi registrou 1,8mm. Na imagem de satélite abaixo, observa-se essas nebulosidade.
Na noite de ontem, a análise (figura abaixo) mostrava o ciclone extratropical deslocado um pouco para sul, sobre o oceano Atlântico. A pressão atmosférica central havia caído para 990 hPa. Note que os ventos viraram ao ponto de entrarem de sudeste entre Florianópolis e o Litoral Norte.
No entanto, hoje pela manhã, o ciclone extratropical havia se deslocado anormalmente para sudoeste, ou seja, não estava indo para o alto mar. A pressão central havia caído bastante, estando com 986 hPa, como mostra a próxima imagem de análise. 
O ar frio pós frontal conseguiu adentrar o interior catarinense, provocando declínio das temperaturas, porém nada de espetacular. Fez mínima de 1,5ºC em Urupema e 4ºC em Bom Jardim da Serra. Entre o Oeste e Meio-Oeste, as menores temperaturas foram de 7,5ºC em Caçador, 8,0ºC em Água Doce, 10,8ºC em Xanxerê e 10,9ºC em Dionísio Cerqueira. 

DADOS: INMET, CPTEC/INPE, EPAGRI-CIRAM, MARINHA DO BRASIL 
Mapas de criação própria

terça-feira, 25 de outubro de 2011

FORMAÇÃO DE CICLONE EXTRATROPICAL, FAVORECE TEMPORAIS E VENTANIA EM SC

A intensificação de um sistema de baixa pressão sobre o Sul do Brasil, bem como sua conversão rápida para ciclone extratropical, processo denominado ciclogênese, provocou temporais e ventania em Santa Catarina entre ontem e hoje. Durante o período diurno de ontem, a aproximação de um longo cavado (área alongada de baixa pressão atmosférica) na alta troposfera pela Argentina, o qual contornado pelo Jato Subtropical (ventos fortes na alta troposfera da zona subtropicaal) advectava vorticidade ciclônica e assim impulsionava o movimento vertical do ar sobre o Sul do Brasil, favorecendo a queda da pressão atmosférica e consequentemente a convergência de umidade nos baixos níveis. Esse cavado é representado na figura abaixo pelos traço pretos.
Pela noite, já era notável a banda de nuvens associada ao ramo frontal frio associado a formação do ciclone extratropical. Na imagem do satélite GOES-12 (abaixo), é possível observar nuvens com topos frios a mais de 12km de altitude sobre Santa Catarina, sobretudo no Oeste, Meio-Oeste e Planalto Sul. 
No Oeste, dados de Metar (código meteorológico usado pela aviação) de Chapecó reportavam chuva moderada com trovoadas entre as 22h e 23h de ontem a noite. A visibilidade horizontal chegou a cair para 4000m no aeroporto da cidade. Em Dionísio Cerqueira, a estação do INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) registrou chuva forte, com acumulado de 30mm em menos de uma hora de duração, sendo 40,2mm até o final da chuva. No município de São Miguel do Oeste, no mesmo período choveu 26,8mm.

Houve chuva intensa também no Planalto Sul e interior do Litoral Sul, acompanhada de descargas elétricas. Em São Joaquim, chegou a precipitar 46,6mm em menos de 6 horas. Timbé do Sul teve 43,8mm no mesmo período de tempo. Na imagem do radar meteorológico da aeronáutica localizado no Morro da Igreja Urubici, pode-se notar cores entre amarelo e vermelho sobre a divisa de SC com o RS por volta das 23h da segunda-feira, onde a refletividade detectava pelo radar era entre 35 e 50 dBZ, o que estimava chuva moderada a forte.
Radar meteorológico da aeronáutica as 23h de ontem
No decorrer da madrugada desta terça-feira, a chuva foi se aproximando da Grande Florianópolis, Vale do Itajaí e Norte do estado. A intensidade não foi tão expressiva nessas regiões citadas, com exceção de Major Vieira e Monte Castelo (Planalto Norte), onde choveu 33,2mm e 28,4mm, repectivamente. 

De maneira geral, os temporais não tiveram tanta severidade, sendo que o principal mesmo foram os valores de chuva, com quase 50mm em algumas cidades, num período inferior a seis horas. Isso se deve ao fato de a camada troposférica ter ficado úmida desde a superfície até uma altitude de 12km. Isso pode ser visto na figura abaixo, onde mostra um perfil vertical de umidade relativa e temperatura sobre SC, de oeste a leste, em várias altitudes. 
Outro ponto a chamar a atenção, foi o fato de as descargas elétricas terem sido mais observadas no Oeste, Meio-Oeste, parte do Planalto Sul e Planalto Norte. Isso é explicado pelo cisalhamento vertical do ar nessas áreas, que é a mudança brusca da direção e velocidade do ventos com a altitude. Esse fator acaba permitindo a maior agitação do gelo dentro das nuvens, gerando diferença de potencial elétrico e assim formação das descargas elétricas. Na próxima figura, temos o índice Sweat, que mostra bem esse cisalhamento. Note que justamente os valores mais altos desse índice aparecem sobre as áreas onde mais houve raios. 
Na manhã desta terça-feira, os ventos já começaram a ganhar velocidade sobre Santa Catarina, sobretudo no sudeste do estado, incluindo também a Grande Florianópolis. As rajadas de vento chegaram a alcançar 106,9 km/h em Laguna, litoral sul catarinense. Ventou forte também em São José com 71,6 km/h, Florianópolis com 69,8 km/h e Urussanga com 47,9 km/h. Na figura abaixo, tem-se uma noção da área onde ventava forte as 10 horas da manhã de hoje. O ciclone extratropical estava com centro um pouco alongado sobre o leste/sudeste do RS. 
Na foto abaixo, tirada por nosso colaborador José Luiz Mattei, vemos o céu encoberto pela manhã em Orleans, após a chuva com trovoadas que ocorreu no início do dia. Como não há estação meteorológica por lá, temos como base Urussanga, onde choveu 23mm. Ao fundo da imagem, é possível observar a Serra Geral.
Orleans-SC
Mais precisamente as 18h, o ciclone extratropical (letra B) já estava sobre o mar ao largo da costa gaúcha, com pressão atmosférica central de 1004 hPa (Hectopascal). Na imagem de satélite ilustrada sinoticamente por mim, a partir de dados observados naquele momento, vê-se essa situação. Note que a banda frontal fria já se afasta do leste catarinense.

Segundo previsões do CIRAM, a quarta-feira deve ser de sol e calor desde o oeste até o litoral norte e Grande Florianópolis, com máximas de até 29ºC. Do Meio-Oeste ao Litoral Sul, a parte oclusa do ciclone deve deixar o céu nublado com chance de chuva. 

DADOS: INMET, CPTEC/INPE, EPAGRI-CIRAM, MARINHA DO BRASIL, REDEMET.
Mapas de criação própria

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

ÁREA DE BAIXA PRESSÃO ACENTUOU CIRCULAÇÃO MARÍTIMA EM SC

O anticiclone pós frontal no oceano Atlântico, continuou transportando umidade marítima para a costa catarinense durante a quinta-feira, através dos ventos de leste a sudeste. No entanto, a aproximação de um cavado (área de baixa pressão alongada) na alta troposfera pela Argentina, fez com que houvesse advecção de vorticidade ciclônica, o que favoreceu o maior levantamento do ar desde os baixos até os médios níveis da troposfera. Esse cavado é representando a figura de análise abaixo, pelos traços pretos, onde fica seu eixo que tem ar descendente, pois o ar ascende apenas na borda nordeste/leste.
Assim, a circulação de umidade marítima ficou mais acentuada e a chuva aumentou de intensidade. Na imagem do satélite Aqua com o sensor Modis em alta resolução (abaixo), vemos a faixa de nuvens formada pelo estado, sendo mais intensa no sudeste catarinense e Grande Florianópolis.
Isso acontece porque apesar de ter o cavado, o planalto catarinense não tinha de onde conseguir umidade, visto que o Jato de Baixos Níveis - JBN (ventos quentes e úmidos da floresta amazônica) não estava atuando. Na figura abaixo (ventos a 1500m de altitude), pode-se ver que os ventos estão indo em direção a floresta amazônica, mas não estão vindo dela para o Sul do Brasil. Já no leste, percebe-se que a circulação marítima converge para o litoral também nesta altitude, sobretudo o sudeste do estado.
Segundo dados do CIRAM (Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina) e INMET (Instituto Nacional de Meteorologia), boa parte das estações meteorológicas registram alguma chuva, sobretudo na Grande Florianópolis. Na capital catarinense, choveu 31,2mm nas 24 horas da quinta-feira. Nas demais cidades precipitou 22,2mm em Timbé do Sul, 19mm em São José, 9,6mm no Morro da Igreja em Urubici, 4,2mm em Jacinto Machado e 1,2mm em Indaial.

Como a capital foi a que mais registrou chuva, vejamos a sondagem feita com balão atmosférico no aeroporto Hercílio Luz as 22h de ontem, que está na figura abaixo. Ela mostra, entre outras variáveis, a temperatura (linha do lado direito), temperatura do ponto de orvalho (linha da esquerda), em vários níveis de altitude da troposfera, ou seja, uma visão vertical. Note que o traço vermelho lá embaixo representa a altura onde estava a base das nuvens. Já o segundo traço mais acima, é a altura onde estava o topo das nuvens que estavam sobre Florianópolis ontem a noite. Por essa sondagem, observa-se que a nuvem não possuía tanto desenvolvimento vertical, visto que seu topo estava em 3558m de altitude e sua base a 850m, que sugere presença de nuvens estratiformes com um pouco de desenvolvimento vertical. Muito provavelmente a capital estava sob a atuação das chamadas Nimbostratus.
No dia de hoje, sexta-feira, o céu ainda amanheceu com mais nuvens no leste de Santa Catarina, como mostra a foto abaixo, tirada em Itapema no litoral norte.
Itapema-SC
Entretanto, no decorrer do dia o eixo do cavado em altos níveis da troposfera ficou encima do território catarinense, o que impediu a maior formação de nuvens devido ao movimento vertical subsidente, deixando mais restrita ao litoral, mas sem registro de chuva. Pelo contrário, o dia foi de sol acompanhado de nuvens do tipo Cúmulus Mediocris e Cumulus Congestus. As temperaturas se elevaram, chegando a 27,2ºC em São Miguel do Oeste, 26,9ºC em Criciúma, 26,7ºC em Urussanga, 26,2ºC em Turvo e 25,4ºC em Dionísio Cerqueira. 

Segundo as previsões feitas oficialmente pelo CIRAM, o sábado deve ser de sol com bastante variação de nuvens no leste, podendo chover pela madrugada, manhã e noite no nordeste catarinense, inclusive a capital. As temperaturas se elevam, fazendo 30ºC no Oeste. Na serra, mínima de 7ºC prevista. No domingo o tempo muda em todo o estado, com chuva e trovoadas no fim do dia e noite.

DADOS: INMET, CPTEC/INPE, EPAGRI-CIRAM, MARINHA DO BRASIL, WYOMING, NOAA.
FOTO: TERRA WAVES

terça-feira, 18 de outubro de 2011

DAS CHUVAS AO FRIO E CINZAS VULCÂNICAS

O fim de semana foi de tempo instável em Santa Catarina, devido a atuação de um cavado (área alongada de baixa pressão atmosférica). No vídeo abaixo, podemos ver um pouca dessa chuva na BR-116 em Canoinhas, planalto norte catarinense. De acordo com a estação meteorológica do CIRAM no município em questão, choveu 9,6mm entre as 00h e 09h de domingo. Três barras teve 12,4mm acumulados no mesmo período.




Na imagem de satélite de domingo, com a análise sinótica feita pela TECTEMPO Meteorologia (visite aqui), nota-se o cavado pelos traços pretos.
Os maiores valores de chuva entre sexta-feira a noite e domingo, ficaram concentrados desde o oeste até o planalto norte, com até 75mm na divisa com o PR. Nas demais áreas, valores de até 50mm. Veja mais detalhes na figura abaixo.
Ontem, após a passagem de uma frente fria sobre o oceano, uma nova massa de ar frio e seco ingressou em Santa Catarina. A menor temperatura se deu em Urupema, planalto sul, com 0,9ºC. Fazia alguns dias que não se registrava temperaturas próximas de zero grau no estado. Na tabela abaixo, você confere as temperaturas mínimas em outras cidades catarinenses, nas estações do CIRAM e INMET.
Cidade (ESTAÇÃO Temperatura Mínima (ºC) Região
Urupema (CIRAM)0,9Planalto Sul
São Joaquim (CIRAM)3,4Planalto Sul
Bom Jardim da Serra (CIRAM)4,1Planalto Sul
Morro da Igreja - Urubici (INMET)5,3Planalto Sul
Campo Belo do Sul  (CIRAM)9,0Planalto Sul
Curitibanos (INMET)10,7Meio-Oeste
Timbé do Sul (CIRAM)10,9Litoral Sul
Florianópolis (CIRAM)13,0Grande Fpólis

Com o deslocamento do anticiclone para o oceano Atlântico, os ventos acabaram virando para sudeste/leste na costa catarinense, o que provocou advecção de umidade marítima e formação de nuvens, culminando em algumas chuvas fracas e isoladas, como aconteceram nessa madrugada e manhã de terça-feira. Na figura de análise abaixo, nota-se claramente esses ventos no nosso litoral.
Segundo dados de estações meteorológicas, as chuvas mais significativas hoje, inclusive durante a segunda metade da tarde, foram de 9,8mm em Jacinto Machado, 5,6mm em Timbé do Sul, 8,4mm em Ituporanga, 7,6mm em Florianópolis e 6,8mm em Itajaí.  

Outro fenômeno chamou bastante a atenção das pessoas que olhavam para o céu durante esta terça-feira. Se tratava de névoa seca, provocada pela presença de cinzas vulcânicas em suspensão na atmosfera sobrejacente ao estado. Nas fotos abaixo, uma em Blumenau e outra em Criciúma, é possível notar o céu "embaçado".
Cinzas vulcânicas em Blumenau-SC
Cinzas vulcânicas em Criciúma-SC
O aeroporto Hercílio Luz na capital, chegou a reportar no código Speci as 12h:35 (local), a sigla VA, que significa Volcanic Ash, ou Cinzas Vulcânicas.
SBFL 1435 13008KT 4000 VA BKN030 22/14 Q1020
As imagens de satélite comprovavam a presença da nuvem de cinzas vulcânicas sobre o sul do estado, Grande Florianópolis e oceano adjacente. Na que você vê abaixo, é do satélite AQUA com o sensor Modis em alta resolução, onde também aparecem misturadas as nuvens comuns geradas pela umidade marítima.
Essas cinzas vulcânicas são provenientes do vulcão chileno Puyehue, que vem tendo erupções desde meados de 2011. As partículas conseguiram alcançar o estado catarinense devido a mudança dos ventos na média troposfera, que começaram a vir de sudoeste. Isso é bem notável na próxima figura de análise de ventos a 6km de altitude.
No leste, a umidade marítima acabou provocando chuva fraca novamente na segunda metade da tarde, o que fez com que as cinzas vulcânicas precipitassem junto as gotículas de água. Nos carros e alguns objetos, era observado fuligem acumulada, como mostra a foto abaixo em Araranguá, tirada pelo colaborador Filipe de Souza.
Acumulação de fuligem nos carros em Araranguá-SC
O aeroporto Hercílio Luz, agora além de reportar a sigla VA no código Speci, colocou também RA, ou seja, chuva moderada com cinzas vulcânicas. Veja:
SBFL 1750 18008KT 2900 VA RA BKN025 18/16 Q1020
As cinzas vulcânicas podem ter contribuído para a formação rápida das nuvens, visto que funcionam como núcleos de condensação, ou seja, a umidade resfria e condensa ao redor de cada partícula, formando gotículas de chuva maiores e assim conseguem vencer as correntes ascendentes de ar, precipitando sobre a superfície juntamente com as próprias cinzas que ajudaram no processo. Isso acontece bastante na floresta amazônica, com a poeira que vêm do deserto do Saara.

DADOS: INMET, CPTEC/INPE, REDEMET, EPAGRI-CIRAM, METSUL, CPTEC/INPE
FOTOS: FILIPE DE SOUZA, DIÁRIO CATARINENSE
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