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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

FORTES TEMPESTADES COM GRANIZO E VENTOS ACIMA DE 100 KM/H EM SC


Olhando a imagem acima, feita pelo satélite geoestacionário GOES-12 por volta das 20:00 de hoje, vemos várias células convectivas formadas sobre Santa Catarina, sobretudo entre a Grande Florianópolis e norte, onde os topos congelados das nuvens chegam a temperaturas de -80ºC (cor rosa). Ao mesmo tempo, note sobre o estado gaúcho, uma banda de nuvens formada por uma frente fria. A frente fria, por ser uma área de depressão barométrica, favoreceu o fluxo de ventos úmidos da floresta amazônica para o território catarinense, como mostra a próxima figura abaixo, com análise de velocidade e direção dos ventos as 21h de ontem.


Junto ao fator frente fria, tínhamos a remanescente atuação de um cavado (área alongada de baixa pressão atmosférica), que aumentava o movimento vertical do ar sobre o estado catarinense, o que junto ao fluxo de umidade, acabou acarretando na formação das tais células convectivas vistas na imagem de satélite do início dessa postagem.

Somado a isso tudo, o dia de ontem foi bastante quente, com registro de temperaturas máximas de 35,5ºC em Indaial, 34,2ºC em Massaranduba e 34,1ºC em Criciúma. Ao longo da noite de ontem, as células convectivas foram provocando chuvas e tempestades isoladas sobre Santa Catarina. Como os ventos em altitudes superiores estavam de noroeste (figura abaixo), muitas cidades tiveram as chamadas tempestades de noroeste. 


Foi o caso da Grande Florianópolis, onde uma intensa célula convectiva se aproximava de noroeste para a região, por volta das 20:30. Na imagem do radar meteorológico da aeronáutica naquele horário mencionado, podia-se ver que o formato da tempestade mostrava que os ventos mais fortes estavam na parte noroeste da mesma, onde havia um formato de arco (curva preta ilustrativa). Segundo dados de estações meteorológicas particulares e oficiais, o vento forte em forma de rajadas na hora da tempestade em Florianópolis chegou a 102 km/h no aeroporto e 86,9 km/h em Capoeiras. Em São José, a rajada foi de 101,5 km/h no bairro Praia Comprida. 


Os efeitos desses ventos muito fortes da tempestade foram notados minutos após o início dela. Em Florianópolis, os danos maiores foram na parte continental, no centro e parte do sul da ilha, onde houve destelhamentos de casas, queda de dois muros no bairro Capoeiras, desabamento de dois pontos de ônibus, queda de árvores, de placas e falta de energia elétrica. No bairro Carianos, parte do telhado da arquibancada do estádio de futebol do Avaí foi arrancado pelo vento durante a partida. O aeroporto Hercílio Luz ficou fechado por 20 minutos para pousos e decolagens. No vídeo abaixo, feita pelo cinegrafista amador Luiz e postado no site Youtube, vemos o telhado de um casa sendo arrancado pelo vento nas proximidades do supermercado Makro, no bairro Capoeiras.


Em São josé, a Defesa Civil contabilizou 112 residências destelhadas até agora, sobretudo no bairro Forquilhinhas que fica no sul do município josefense. Também faltou energia em muitos lugares. Outro cinegrafista amador filmou o momento em que ocorria um raio em São José no início do temporal.


Perceba na imagem do radar mostrada anteriormente, que a área com chuva forte estava no norte de Palhoça, sul de São José e entre o oeste e sul de Florianópolis. Em São José choveu 25,4mm. Já no bairro Capoeiras precipitou 20,8mm, sendo 17mm nos primeiros 15 minutos de chuva. Segundo informações de colaboradores do blog e da imprensa local, houve registro de granizo no Kobrasol (São José), Abraão, Capoeiras e Campeche (Florianópolis). A tempestade que atingiu a Grande Florianópolis, além do vento forte e do granizo, impressionava também pela grande quantidade de descargas elétricas atmosféricas, que foram detectadas pela rede Rindat (Rede Integrada de Detecção de Descargas Atmosféricas). 

Pelas características da tempestade, ela foi uma frente de rajada. Isso porque possuia formato de um arco na parte traseira (a noroeste neste caso), a temperatura teve abrupta queda, a pressão aumentou rapidamente e o vento aumentou muito de velocidade. No bairro Capoeiras em Florianópolis, por exemplo, em 15 minutos a temperatura caiu de 26,8ºC para 22,2ºC, a pressão subiu de 1011,7 hPa para 1013,1 hPa e o vento passou de 4,8 km/h para 86,9 km/h.

Em Blumenau, outra célula convectiva também formada entre a tarde e noite de ontem, provocou destelhamentos de 40 residências. Em Itajaí o vendaval provocou destelhamento de 14 casas.

Para a ocorrência do granizo e do alto acumulado de chuva na Grande Florianópolis, precisava-se que o nível de congelamento da água estivesse em níveis mais baixos e com umidade relativa alta, bem como as parcelas de ar apresentassem temperatura inferior a vizinhança, facilitando a ascenção. Fazendo uma intersecção das duas figuras de análise abaixo, uma de umidade no nível de congelamento e outra com índice de instabilidade Lifted, vemos que a parte onde havia condição para granizo era justamente a Grande Florianópolis onde o nível de congelamento estava 4800m e a umidade estava alta nesse nível, além do que o índice Lifted estava com valores mais negativos nessa área, facilitando as "viagens" verticais das pedras de gelo dentro da nuvem. 

DADOS: INMET, CPTEC/INPE, EPAGRI-CIRAM, REDEMET, RINDAT, NDONLINE, DIÁRIO CATARINENSE

sábado, 25 de fevereiro de 2012

A GROELÂNDIA JÁ ESTEVE BEM MAIS QUENTE

Muitas e muitas vezes, você se depara com notícias nos meios de comunicação, falando sobre o derretimento do gelo do Ártico, da Groelândia e aumento do nível do mar. No dia 19 de maio de 2010, o site Apolo 11 publicou um artigo falando sobre o rápido derretimento da camada de gelo da Groelândia, que estaria provocando a elevação da camada rochosa por debaixo. O principal integrante do estudo foi Tim Dixon, professor de geofísica da Escola Rosenstiel de Ciências Marinhas da Universidade de Miami. 

O estudo não deixa de ser verdade. Entretanto, pesquisas feitas com cilindros de gelo, onde o ar atmosférico ficou aprisionado por longos períodos de tempos (milhares de anos), mostram que a Groelândia já foi bem mais quente do que hoje. No gráfico abaixo, vemos que por lá as temperaturas estiveram muito mais altas nas chamadas Idades do Bronze, Idade Romana e no período Medieval. O gráfico está no artigo "A alta variabilidade da temperatura da superfície da Groenlândia ao longo dos últimos anos 4000 estimados a partir do ar aprisionado em um núcleo de gelo", onde entre outros está o cientista Jeffrey P. Severinghaus.


Hoje em dia, tanto o degelo da Groelândia quanto do Ártico inteiro, é atribuído ao suposto aquecimento global antropogênico, ou seja, aquele provocado pelo homem. No entanto, se já na Idade do bronze, na Idade Romana e período Medieval a Groelândia esteve bem mais quente do que hoje e não havia indústrias que emitissem CO2, qual seria o motivo dessas variações de temperatura? A resposta está na variação da atividade solar, conhecido como ciclos de Schwabe que duram 11 anos. Nesses ciclos, existem ciclos maiores 90 anos, chamados de Ciclos de Gleissberg. Ora, então a variação logo é natural! Na foto abaixo, vemos o sol com suas manchas em 21 de maio de 2000.


No gráfico abaixo temos as medidas de atividade solar nos últimos 2000 anos, através de medidas de manchas solares. Quanto maior o número de manchas solares, maior é a atividade do sol. Veja que justamente, por exemplo, no período quente medieval quando a Groelância esteve mais quente que hoje, o sol estava com atividade alta. Note que quando a atividade solar diminuiu drasticamente nos chamados Mínimo de Sporer e Mínimo de Dalton, a temperatura na Groelândia também decaiu, sobretudo na chamada Pequena Era Glacial. É só você comparar esse gráfico com o anterior mostrado nessa postagem.


No momento, o sol encontra-se no chamado ciclo 24, sendo que cada ciclo dura 11 anos como vimos nesta postagem. O ciclo ao qual estamos, iniciou-se em 2008, terá um máximo previsto para 2013 e um final em 2019. Veja detalhes no próximo gráfico abaixo.


DADOS: NOAA, GRL/EOS, APOLO 11

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

APÓS O FRACO AR FRIO, CAVADO SE FORMOU EM SANTA CATARINA

Após a forte onda de calor que predominou durante a semana passada, onde foi registrado temperaturas máximas de até 36,9ºC em Joinville (Litoral Norte) e 40,8ºC em itapiranga (Oeste), uma frente fria passou pelo litoral catarinense. A presença desse sistema, trouxe chuvas para boa parte de SC. Segundo dados de estações meteorológicas, houve chuva em praticamente todas as regiões, inclusive no oeste onde a estiagem está agravada. As áreas onde ocorreram os maiores acumulados foi no Vale do Itajaí e Litoral. 

Na tabela abaixo, você confere os valores de precipitação acumulada entre os dias 9 e 10 deste mês, lembrando que as chuvas no Vale e Litoral Norte começaram mais tarde devido ao próprio deslocamento da banda de nuvens do sistema frontal frio.

Cidade (ESTAÇÃO) Precipitação acumulada (mm) entre 9 e 10/02 Região
Indaial (CIRAM)37,7Vale do Itajaí
Urussanga (CIRAM)31,5Litoral Sul
Itajaí (CIRAM)26,9Litoral Norte
Ponte Serrada (CIRAM)23,5Oeste
Major Vieira (CIRAM)22,4Planalto Norte
São Joaquim (CIRAM)14,2Planalto Sul
Lages (CIRAM)12,9Planalto Sul
Itapiranga (CIRAM)12,0Oeste
Ituporanga (INMET)8,0Vale do Itajaí
Caçador (CIRAM)4,8Oeste
Chapecó (CIRAM)4,2Oeste
São Miguel do Oeste (CIRAM)2,6Oeste

Gradativamente, ao longo da sexta-feira e sábado, uma massa de ar seco e mais frio adentrava o estado catarinense, declinando as temperaturas, sobretudo as máximas. Na serra catarinense, o sábado amanheceu com 7,3ºC em Urupema, 8,5ºC em São Joaquim e 9,7ºC em Bom Jardim da Serra, o que já é um frio relativamente considerável para janeiro. Em Itapiranga, num período de doze horas a temperatura caiu de 33,1ºC (máxima do dia 10) para 15,3ºC (manhã do dia 11). As máximas na maior parte do território catarinense não passaram dos 30ºC no sábado e domingo.


Entretanto, no início desta semana, mais precisamente na noite de segunda-feira, a formação de um cavado (área alongada de baixa pressão atmosférica) no leste catarinense provocou o desenvolvimento de nuvens verticais e também o recuo do sistema frontal pelo mar sob a forma de frente semi-estacionária. Na figura acima, com análise de ventos na alta troposfera, podemos ver esse cavado, representado pelos traços pretos. 

Na imagem de satélite referente as 07h:00min da terça-feira, podemos ver a nebulosidade, sendo que o maior desenvolvimento vertical naquele horário estava entre a Grande Florianópolis e parte do Litoral Sul.


As 04h:45min, o radar meteorológico da aeronáutica localizado no Morro da Igreja em Urubici, detectava refletividade de até 45 dBZ entre Biguaçú e sul da ilha de Florianópolis, indicando chuva moderada a forte nessas áreas.


De acordo com dados de estações meteorológicas operadas pelo CIRAM e INMET, além de algumas particulares averiguadas pelo blog Paulo Tempo, os maiores acumulados de chuva na terça-feira foram de 26mm em Rio Negrinho, 24,9mm em Indaial, 23,9mm em Florianópolis, 17,4mm em Ituporanga, 8mm em São Miguel do Oeste, 7mm em Itajaí e 2,5mm em Blumenau.

Note nos dados do parágrafo anterior, que os maiores valores de chuva foram no Planalto Norte, Vale do Itajai e Grande Florianópolis. Observe a figura abaixo, com análise de umidade relativa a (4500m) de altitude, já na média troposfera.


Veja que a umidade relativa estava mais alta nessa altitude apenas no leste catarinense. Ou seja, a camada de umidade sobre essa região era alta o bastante para provocar uma chuva intensa por algumas horas e além disso precipitações fracas durante o dia, como de fato ocorreu. Já no Oeste e Meio-Oeste a camada úmidade estava só em superfície, ocasionando chuvas isoladas e passageiras, a exemplo de São Miguel do Oeste onde choveu 8mm em minutos, na forma de pancada.

Nesta quarta-feira, as instabilidades recuaram a abrangeram maiores áreas do estado, exceto no oeste e meio-oeste. Em Urussanga, a presença do cavado, do forte calor e umidade alta, provocaram temporal no final da tarde, onde a estação do CIRAM teve acumulado de 15,8mm em pouco tempo. Já Criciúma onde precipitou 9mm no mesmo período, os alagamentos relâmpagos causaram transtornos (foto abaixo). Em São José, na Grande Florianópolis, a chuva em forma de pancada se deu na madrugada, com 8,2mm.

Alagamento em Criciúma-SC
DADOS: INMET, CPTEC/INPE, EPAGRI-CIRAM, REDEMET, CLIMATERRA, ESTAÇÕES PARTICULARES, PORTAL ENGEPLUS.
Mapas de criação própria

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

TEMPERATURA GLOBAL TEVE SIGNIFICATIVA DIMINUIÇÃO EM JANEIRO

Desde 1979, os satélites passaram a medir indiretamente as temperaturas globais, dando mais confiabilidade e imparcialidade nos dados, pois até então só se tinha dados de estações meteorológicas de superfície mal distribuídas e em regiões onde a cidade "chegou" perto.

Segundo dados desses satélites, analisado pela universidade do Alabama nos EUA, a temperatura média global teve diminuição em janeiro deste ano, se comparado com os meses anteriores, ficando com anomalia global negativa de -0,093ºC. No mês de dezembro de 2011, ela havia fechado com anomalia positiva de +0,126ºC.

No Hemisfério Sul, mesmo com as ondas de calor do verão, a temperatura média fechou com anomalia de -0,127ºC. Isso se deve ao fato de que estávamos e estamos em situação de La Niña, que resfria boa parte do maior oceano da Terra, o oceano Pacífico. Além disso, o oceano Atlântico tropical sul apresentou anomalias negativas também de temperatura do mar, muito pela influência do ciclo lunar e da atuação das nuvens da ZCAS (Zona de Convergência de Atlântico Sul).

No Hemisfério Norte, a anomalia também negativa ficou em -0,59ºC, também impulsionada pelo La Niña e pelo inverno boreal, que inclusive está intenso e matando muitas pessoas. Para não restar dúvidas sobre o resfriamento nos dois hemisférios, temos os dados de temperatura também da região intertropical (entre os trópicos de Capricórnio e de Câncer) em janeiro de 2012, que mostram anomalia negativa de -0,138ºC.

No gráfico abaixo, você confere a evolução das anomalias de temperatura média global desde 1979. 


Note que na tendência ela vem diminuindo gradativamente ao longo desta década, reforçando a tese de resfriamento global, defendida por muitos cientistas como Luiz Carlos Molion, Ricardo Augusto Felício, Nicola Scafetta, entre outros. O La Niña que ajudou a declinar a temperatura média global do mês passado, é um fenômeno influenciado por um ciclo maior chamado Oscilação Decadal do Pacífico - ODP, que consiste num resfriamento e aquecimento das águas a cada 30 anos. Esse ciclo é governado pela atividade solar, que também possui ciclos de 11 e 90 anos. 

Na figura acima, vemos que a ODP esteve positiva no início do século passado, passou a negativa de 1945 a 1977, a positiva de 1978 a 2000 e agora está tendendo a declinar.


DADOS: ROY SPENCER - GLOBAL WARMING, UNIVERSIDADE DO ALABAMA, NOAA.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

LA NIÑA MODOKI ENTRA EM AÇÃO

Desde o período compreendido entre o fim de dezembro de 2011 e o início de janeiro deste ano de 2012, o evento oceano-atmosférico La Niña (resfriamento das águas superficiais do oceano Pacífico equatorial e leste) vem apresentando características diferentes, consistentes com que se chama de La Niña Modoki, que em Japonês significa pseudo-La Niña. 

O La Niña Modoki é caracterizado por ter as águas mais frias que a média apenas na parte equatorial do oceano Pacífico, ao passo que a oeste e leste desse oceano as águas estão mais quentes que o normal. Na figura abaixo, do dia 25 do mês de passado, vemos claramente essa situação.
De acordo com esporádica informação literária sobre o La Niña Modoki, ele já foi registrado desde 1988, podendo também ter se formado em anos anteriores. Em se tratando do período de verão, tivemos La Niña Modoki em 1988, 1998, 1999, 2000, 2007, 2008 e 2011. 

Um artigo muito bom, que estudou a influência desse tipo de La Niña na precipitação sobre a América do Sul, mostra que em verões de La Nina Modoki, as chuvas ficam dentro da média climatológica em Santa Catarina. Entretanto, como sabe-se, tanto o La Niña quanto o El Niño, demoram um tempo para começar a surtir influência no clima global, não sendo diferente em Santa Catarina. Por isso, iremos sentir os efeitos do La Niña Modoki nos próximos meses, provavelmente no trimestre Março-Abril-Maio (MAM). O mesmo artigo que estudou a influencia nas precipitações, mostra que no trimestre MAM o La Niña Modoki provoca chuvas abaixo da média climatológica no oeste e extremo norte catarinense, ficando normal nas demais regiões. 


Com a persistência do La Niña Modoki neste mês de fevereiro, a tendência é que então tenhamos um déficit de chuvas no oeste e extremo norte catarinense. Para o oeste que já enfrenta uma grave estiagem, a notícia não é boa. Nas demais áreas, chuvas dentro da média climatológica.

DADOS: NOAA, CPTEC/INPE.