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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

FRENTE FRIA FORMA TEMPESTADES EM SANTA CATARINA

A última segunda-feira do mês fevereiro de 2013 foi bastante agitada no que diz respeito ao tempo em Santa Catarina. Uma frente fria que se deslocava pelo RS se aproximava do território catarinense. Em sua passagem, houve a formação de linhas de instabilidade pré frontais, acompanhadas de tempestades, granizo e muitos raios.

Já pela manhã, a radiossondagem do aeroporto (figura abaixo), feita com uma sonda remota a bordo de um balão de hidrogênio, mostrava uma troposfera instabilizada. No diagrama Skew-t, que é feito mediante a essas radiossondagem, temos o perfil vertical da troposfera sobre a capital catarinense. Veja que a linha de temperatura do ponto de orvalho (linha esquerda) e a temperatura do ar (linha da direita) vão quase juntas para a esquerda a medida que a altitude aumenta. Ou seja, em outras palavras, a atmosfera estava resfriando e ficando cada vez mais úmida a medida que aumenta a altitude. Porém essa condição vai até quase o nível de 500 hPa (em torno de 5850m), onde a troposfera resseca.
Essa camada de umidade era favorecida pela presença de ventos de noroeste numa altitude de 1500m, que canalizam a umidade da floresta amazônica e trazem-na até nós. Isso acontece por diferença de pressão. Como a frente fria é uma baixa pressão, ela atrai vento para ela. O fato de haver um sistema de baixa pressão no Paraguai, acabou dividindo esse canal de umidade, como pode-se ver na figura abaixo, que tem a análise de ventos e umidade relativa em 850 hPa (1500m de altitude). 

No período da tarde, a frente fria já passava pelo sul catarinense. Na figura abaixo, temos a análise de pressão atmosférica ao nível do mar e velocidade vertical do ar (omega) na superfície as 15h (hora local). Veja que os valores negativos (ver legenda), que representam a subida do ar, estão abrangendo o oeste e meio-oeste catarinense. Em grande parte do leste ainda predominam movimentos descendentes ou quase virando para ascendente. O Norte do estado e parte do litoral tem áreas com valores pouco negativos, que representam instabilidades pré frontais, ou seja, aqueles núcleos de trovoadas passageiros antes da chegada da frente fria.
Algumas horas depois, a banda de nebulosidade frontal adentrou mais organizadamente o estado. Antes da entrada do ramo frio, tivemos a passagem de uma forte linda de instabilidade. Em Florianópolis, ao chegar da faculdade e passar pelo centro da cidade, pude presenciar a entrada da tempestade (foto abaixo), que teve uma frente de rajada e uma linda Shelf Cloud (nuvem de prateleira), que são aquelas franjas na dianteira. Essas franjas indicam ventos intensos. O tom esverdeado das nuvens indica chance de granizo, como foi registrado em alguns locais como o bairro Canasvieiras. 

Centro de Florianópolis-SC. Por Paulo Hames
Na parte continental da capital catarinense, uma estação meteorológica particular localizada na parte alta do bairro Capoeiras, registrou exatamente as condições que indicam a passagem de uma frente de rajada, como aumento súbito da pressão atmosférica, queda brusca da temperatura em minutos e ventos intensos repentinamente. No gráfico abaixo é possível notar isso, na área circulada, que compreende o horário entre as 18h e 19h. 

A tempestade, além do granizo e ventos fortes, ainda tinha bastante descargas elétricas, principalmente nuvem-ar e nuvem-solo. No município de Biguaçu, na Grande Florianópolis, uma igreja chegou a pegar fogo depois de ser atingida por um raio. Na imagem do satélite GOES-12 com detecção de descargas elétricas pela RINDAT (figura abaixo), podemos ver a quantidade de raios por volta das 18h, sobretudo no leste catarinense.

Em termos de chuva, o maior valor de Florianópolis foi registrado no bairro Canasvieiras pela observadora e caçadora de tempestades Jaqueline Estivallet, com 52mm em 20 minutos. Segundo ela, houve granizo por lá. Ainda em Florianópolis, a estação meteorológica do CIRAM (Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina) no bairro Itacorubi registrou 17mm. Nas outras cidades catarinenses os maiores valores de chuva durante os temporais foram de 40mm em Campos Novos, 36,5mm em Rio Negrinho, 26mm em São Joaquim, 20,2mm em Itajaí, 17,9mm em Lages e 10,4mm em Caçador.

DADOS: INMET, CPTEC/INPE, RINDAT, EPAGRI-CIRAM, WEATHER WUNDERGROUND, WYOMING.
Mapas de criação própria

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

FRENTE DE RAJADA ATINGIU O LITORAL SUL DE SC



Analisando o dia 13 de fevereiro de 2013, percebe-se que sinoticamente não havia sistemas transientes passando por Santa Catarina. Pela imagem de satélite mostrada acima, registrada no período da tarde, vemos células convectivas desorganizadas e espalhadas pelo território catarinense, abrangendo o Oeste, Meio-Oeste, Planalto Norte e Litoral.

Na próxima figura mostrada abaixo, vemos o diagrama atmosférico Skew-T, que mostra um perfil vertical da troposfera sobre Florianópolis, representando bem o que estava ocorrendo na parte litorânea. Os dados provem de radiossondagem realizada diariamente no aeroporto da capital, por meio de uma sonda meteorológica (conjunto de instrumentos que medem temperatura, umidade, pressão e vento) remota a bordo de um balão grande de gás hidrogênio. Nela pode-se perceber a direita barbelas que indicam velocidade e direção do vento em cada altitude. Veja que lá embaixo na superfície o vento registrado era de sudoeste. Porém desde aproximadamente 2042m até 5830m de altitude, ele predomina de noroeste, o que indica a presença de uma circulação ciclônica, que era um pequeno cavamento de pressão nessa camada citada. Do oeste ao planalto norte, essa condição permitiu entrada de umidade da floresta amazônica. Já no leste do estado, tivemos bastante contribuição da evaporação local junto a umidade marítima. Note também na parte direita da figura, que o índice Lifted estava negativo e o K e o Totals estavam altos. Isso sugere uma atmosfera bastante úmida embaixo e com ascendência.

Focando na nossa região de interesse, ou seja, o Litoral Sul, tivemos formação de células convectivas bem isoladas nessa região. Como enfatizado na análise, o que contribuiu para a formação de tais células nessa área foi a umidade local, umidade do mar e a presença de um cavamento de pressão entre 2042m e 5830m de altitude. Outro fator, porém estático, mas não menos importante, foi o relevo. As montanhas tem um papel fundamental na formação das células. Pela imagem do radar meteorológico da aeronáutica (figura abaixo) localizado no Morro da Igreja, vemos através do Zoom a presença de uma célula com refletividade máxima de 55 dBZ, que a classifica como forte. Percebe-se que ela tem uma formato de arco com a parte aberta para oeste, deslocando-se para leste.
Radar Redemet - Morro da Igreja. 13/02/2013 as 16h:45 UTC.
Esse arco detectado pelo radar, foi visto a olho nu em Orleans pelo colaborador do blog José Luiz Mattei, que registrou em fotos. Note na foto que há uma espécie de franja contornando o arco.

Orleans-SC, por José Luiz Mattei
Com essa percepção de um formato de arco por radar e fotos, junto aos dados meteorológicos da região, conclui-se que o que passou por essa pequena área do Zoom foi uma frente de rajada, que é uma espécie de frente fria em miniatura. As características da passagem dela são: aumento repentino da pressão atmosférica, queda brusca da temperatura em minutos e aumento significativo nas rajadas de vento. A estação meteorológica do INMET em Urussanga registrou exatamente essas condições requeridas, como pode-se notar na figura abaixo. Veja que o vento atingiu 83,9 km/h.


Segundo essa mesma estação, choveu 24,4mm em Urussanga, sendo 18,2mm em menos de uma hora. Em Braço do Norte, a nordeste de Orleans, choveu 31,4mm, sendo 25,4mm em menos de 2 horas. Infelizmente Orleans não possui estação meteorológica ativa.   

DADOS UTILIZADOS: CPTEC/INPE, EPAGRI-CIRAM, REDEMET, INMET, WYOMING.