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terça-feira, 20 de julho de 2010

O SUPER ANTICICLONE POLAR DE 2007 E O DA ÚLTIMA SEMANA

Nesta semana vimos algo espetacular do ponto de vista meteorológico. O frio chamou a atenção, não apenas pela sua intensidade que foi fortíssima, mas também pela sua grande área de atuação, matando até agora cerca de 80 pessoas. Foram registradas temperaturas de até -12ºC em algumas partes da Argentina. Não bastasse isso, a super onda de frio avançou e segundo a empresa MetSul meteorologia ultrapassou a linha equatorial. Para se ter uma idéia, em Roraima, extremo norte do Brasil, a mínima na capital Boa Vista foi de incríveis 20,9ºC, o que é significativo para a região que enfrenta calor praticamente durante todo o ano. Em Manaus, de acordo com dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), a temperatura mínima foi de 21ºC, o que causou surpresa da população.

No Acre, segundo o INMET, a friagem causada pela massa de ar polar derrubou a temperatura mínima para 8,2ºC no dia 19 em Epitaciolândia! A máxima na cidade foi de 25,5ºC. Para se ter a idéia da intensidade desse frio para os acreanos, até o dia 11 de julho, Epitaciolândia tinha temperaturas mínimas em torno dos 22ºC, ou seja, o comum para o clima amazônico. Em Rondônia, a cidade menos quente do Estado, Vilhena, registrou mínima de apenas 7,6ºC no dia 17, sendo que a temperatura máxima nesse dia não ultrapassou os 15,5ºC. Em Ariquemes, também em RO, a mínima no dia 18 foi de apenas 12,5ºC.

No centro-oeste, segundo o portal G1, mais de mil cabeças de gado morreram em virtude do frio intenso. De acordo, com o INMET, a temperatura mínima em Cuiabá-MT chegou a 9,6ºC no dia 17, sábado. No litoral de São Paulo, cerca de 300 pinguins morreram. De acordo com biólogos a causa é a corrente marítima muito fria que acompanhou a massa de ar frio.

Em Santa Catarina houve ocorrência de neve em São Joaquim, Luzerna e São Miguel do Oeste. No Rio Grande do Sul o fenômeno se manifestou em Santana do Livramento, Canela, Bom Jesus e Ausentes. No Paraná houve precipitação nival em Pitanga e Prudentópolis.

Pela América, ocorreu o inusitado, como neve no Chaco Boliviano, além da presença forte do fenômeno no norte da Argentina, como em Tucuman, Salta, e San Salvador de Jujuy. Nevou também em Buenos Aires, no Mar del Plata e em Montevideo no Uruguai.

Se analisarmos a carta sinótica feita pela Marinha Brasileira, com base em dados observados, veremos que o anticiclone polar avançou muito. Porém o que mais chamou a atenção foi o alto valor de pressão que o sistema conseguiu adquirir e manter, com valor central de 1044 Hectopascais, mesmo chegando até a região de Buenos Aires. Confira abaixo (clique na imagem para ampliar):


Não são todos os anos em que vemos pressões tão altas em latitudes médias como vistas nos últimos dias. Em Florianópolis, por exemplo, pelo menos por 3 dias a pressão atmosférica ficou entre 1030 e 1032 hPa, valor comumente obtido em centros e alta pressão típicos de inverno.

Contudo, não é tão raro assim esse tipo de situação. Para comprovar, reservei uma carta sinótica, também da Marinha do Brasil, no dia 28 de julho de 2007, quando também um super anticiclone polar avançou pela Argentina e chegou com pressão de 1040 hectopascais na região de Buenos Aires. Veja a carta a seguir (clique na imagem para ampliar):


Mediante a reanálise do National Centers for Environmental Prediction (NCEP), gerei um mapa de temperaturas em superfície das 12 horas UTC do dia 28 de julho de 2007. Veja (clique na imagem para ampliar):
Segundo o mapa, em boa parte da Argentina as temperaturas apresentavam valores inferiores a -9ºC até 3ºC, com excessão do nordeste daquele país onde favia mais de 6ºC positivo. Não há notícias de neve nesse período. No entanto, de acordo com dados do código aeronáutico METAR, o aeroporto de Mar del Plata no dia 28 de julho de 2007 as 03h UTC, registrou chuva moderada com temperatura de 2ºC. No norte da Argentina, San Salvador de Jujuy teve chuvisco moderado com 0ºC no dia 03 daquele mês.

No Brasil, a madrugada de 29 de julho de 2007 foi lembrado pelo frio abaixo de zero em várias cidades sulinas, com geada ampla. Em SC, as menores marcas foram de -7,0ºC no distrito do Cruzeiro em São Joaquim, -5,6ºC em Lages e -5,0ºC em Caçador. Até em Florianópolis fez bastante frio, com apenas 2,5ºC.

No Sudeste do Brasil, o Estado de São Paulo apresentou mínimas muito baixas naquele dia, muito diferente da onda de frio desse ano de 2010 onde praticamente não fez frio no Sudeste. A mínima em Campos do Jordão chegou a -2,3ºC no dia 29 de julho de 2007. Na capital paulista a temperatura mais baixa foi de 5,1ºC. No aeoporto de Guarulhos a mínima acusou 3,0ºC. Em Taubaté fez 3,5ºC.

Já no norte, a friagem daquele daquele ano não foi tão intensa, fazendo mínima de 13,8 em Cabixi-RO, de acordo com dados do INMET.

O que muita gente da região Sudeste do Brasil, principalmente os amantes do frio, perguntam neste julho de 2010, sobretudo nessa última semana é o porque de o ar polar ter ultrapassado a linha equatorial mas por contrapartida não conseguir extender-se pela região Sudeste do país, mesmo o anticiclone ter "ancorado" na mesma região em ambos os anos?. A explicação mais obvia seria que essa de 2010 teria sido muito continental em relação a de 2007. Porém é válido ressaltar a TSM (Temperatura Superficial do Mar) em julho de 2007 e nesta última semana que passou.



Note que em julho de 2007 não havia praticamente anomalia positiva no oceano Atlântico na costa Brasileira como se observa agora em julho de 2010. Ou seja, com águas mais quente que a média, que se apresentam agora, o termo diabático da teoria de Sutclif, muito conhecida entre os meteorologistas, entra em ação, havendo a troca de calor entre o oceano e a massa de ar polar, enfraquecendo-a nessa região. Contudo isso somente não pode ser o motivo principal.

A postagem de hoje pode ser encarada como uma reflexão do que já passou, para podermos entender o que está ocorrendo no momento. Nenhuma massa de ar frio é igual a outra, mas de anos em anos, não todos os anos, elas ficam bem semelhantes. Por isso antes de afirmar qualquer dado sobre recordes e fatos impressionantes, é preciso buscar no passado uma explicação para o presente.

DADOS: INMET, CLIMATERRA, CPTEC/INPE, NCEP, METSUL, MARINHA DO BRASIL, G1, DE OLHO NO TEMPO.

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