Texto alterado devido ao aumento do número de cidades com neve
O blog Paulo Tempo já mostrou as notícias, conferiu as cidades onde nevou com base em institutos de meteorologia e relatos de moradores, enfim foi dedicado ao momento especial pelo qual o Estado catarinense passou, ou seja, o ano de 2010 se tornou histórico e já está nos arquivos dos anos com mais nevadas em SC. Nesta postagem vamos ver curiosidades e explicações sobre essa grande nevada.
O blog Paulo Tempo já mostrou as notícias, conferiu as cidades onde nevou com base em institutos de meteorologia e relatos de moradores, enfim foi dedicado ao momento especial pelo qual o Estado catarinense passou, ou seja, o ano de 2010 se tornou histórico e já está nos arquivos dos anos com mais nevadas em SC. Nesta postagem vamos ver curiosidades e explicações sobre essa grande nevada.
Nevou por 3 dias seguidos em Santa Catarina, um fato histórico, com registro em 25 cidades, sendo que um valor tão alto como esse só havia sido registrado em 12 e 13 de julho de 2000 quando nevou em 21 cidades catarinenses, segundo o jornal Diário Catarinense informou na época e que também pode ser encontrado no livro "A Neve no Brasil" de Nilson Pedro Wolff.
Veja o mapa atualizado hoje, com as cidades onde nevou na última quarta-feira, dia 04 de agosto, sendo elas: São Joaquim, Lages, Urupema, Urubici, Bom Jardim da Serra, São Miguel do Oeste, Anita Garibaldi, Bom Retiro, Curitibanos, Orleans, Urussanga, Grão-Pará, Otacílio Costa, Pouso Redondo, São Bento do Sul, Rancho Queimado, Lebon Régis, Fraiburgo, Monte Carlo, São Cristovão do Sul, Ponte Alta, Santa Cecília, São José do Cerrito, Videira e Lauro Muller.
Na dessa primeira de agosto de 2010 o Morro da Igreja teve mais de 50cm de neve e o Morro das Torres em Urupema 30cm, segundo informações do Ciram (Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina). A última vez que havia acumulado assim foi em julho de 1996 com 21cm. A maior nevada de Santa Catarina, em termos de acúmulo de neve, foi em São Joaquim com 1 metro de 30 centímetros em 1957, como pode ser visto na foto abaixo, tirada de arquivos históricos.
Segundo Ronaldo Coutinho da empresa Climaterra, nesta semana, o acúmulo de neve chegou a 1 centímetro em São Joaquim, sendo que a última vez que nevou mais foi em 1999 com 4cm acumulados no solo. Outra curiosidade que colocou bem Coutinho foi o fato de ter nevado tanto sem vento, o que normalmente não acontece.
POR QUE NEVOU?
Lembram de segunda-feira quando o blog Paulo Tempo postou aqui um mapa de previsão numérica do tempo para neve. É claro que não se deve levar em conta apenas modelos, pois erram a cabe ao meteorologista avaliar e ele mesmo prever. Porém só mostramos por curiosidade. Um cavado invertido (área alongada de baixa pressão atmosférica na borda de um sistema de alta pressão) se formou sobre Santa Catarina, resultado de outro cavado, só que este em altitude, mais precisamente no nível de 500 hPa (em torno de 6000 metros de altitude) sobre o nordeste da Argentina, como pode ser visto na figura de linhas de corrente (vento) abaixo, na parte onde os ventos fazem uma onda.
Havia cobertura de nuvens sobre todo o Estado, inclusive com desenvolvimento vertical (áreas coloridas na imagem abaixo), o que é fundamental para altos acumulados de neve, pois nuvens estratiformes (nuvens horizontais) como as Stratocumulus provocam no máximo neve isolada e fraca, como ocorreu em muitas das 20 cidades que tiveram o fenômeno nesta semana, com excessão das localizadas no Planalto Sul onde nevou forte.Veja na imagem de satélite abaixo:
Esse cavado além de provocar nebulosidade com desenvolvimento vertical (fundamental para ocorrência de neve por serem "nuvens frias") e chuva, impulsionou um grande reforço de ar frio desde a superfície até níveis superiores da troposfera, sendo que já fazia bastante frio. Na serra catarinense a madrugada e manhã de segunda-feira foi gelada, com -3,6ºC em Urupema e -2,8ºC em São Joaquim. Na radiossondagem abaixo, do aeroporto Hercílio Luz em Florianópolis, podemos notar que na quarta-feira, 04/08, a umidade relativa entre 850 hPa e 700 hPa (entre 1500 e 3000 metros de altitude, aproximadamente), nível padrão para avaliação de neve segundo estudos da meteorologista Márcia Fuentes, ficou entre 99 e 100%, ou seja, o ar estava saturado.
No mapa abaixo, podemos ver as temperaturas que eram registradas em 850 hPa (1500 metros de altitude) as 9 horas da manhã de quarta-feira. Note que sobre o Planalto Sul e sul do Estado os valores chegam estão entre a linha de -3ºC a 0ºC (naquele nível).
Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), a neve ocorre quando todo o vapor d'água da atmosfera se condensa gradativamente a uma temperatura inferior ou igual a 0ºC, passando diretamente para o estado sólido e formando cristais. Diferentemente do granizo, a neve não aglomera gotículas de água super-resfriadas.
Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), a neve ocorre quando todo o vapor d'água da atmosfera se condensa gradativamente a uma temperatura inferior ou igual a 0ºC, passando diretamente para o estado sólido e formando cristais. Diferentemente do granizo, a neve não aglomera gotículas de água super-resfriadas.
No entanto, para que essa neve caia na superfície é preciso que se tenha temperaturas abaixo dos 2ºC próximo do solo, pois caso o contrário cairá a chuva. De acordo com dados das estações meteorológicas automáticas do INMET, o Morro da Igreja em Urubici na quarta-feira não apresentou temperaturas maiores que -1,2ºC, ou seja, ficou negativo durante todo o dia e noite. Em São Joaquim onde também nevou, a temperatura durante a ocorrência da neve ficava em torno de 1ºC, mudando alguns décimos ao longo do período. Isso explica o fato de não nevar em Florianópolis, onde a quarta-feira não fazia menos que 8ºC, insuficiente para que os cristais caiam como estavam antes de sair da nuvem. Porém naquela radiossondagem mostrada anteriormente, você pode notar que onde o ar estava saturado (umidade relativa em 100%), a temperatura (temp c) estava próximo e abaixo de zero, ou seja, o vapor d'água passou para o estado sólido e formou a neve naquela altitude mas não precipitou devido a temperatura mais elevada sobre a capital catarinense.
Com isso o prato estava feito. Frio em torno e abaixo de zero grau na superfície e em 1500 metros de altitude, somados a alta umidade e nebulosidade formada pelo cavado invertido foram os principais fatores para a presença da tão esperada e bem vinda neve. Onde não nevou, a explicação é a altitude insuficiente ou então a extensão da parte mais forte do ar frio, que pela análise se encontrava no Planalto Sul e Sul do Estado. Talvez por isso tenha nevado em Urussanga e Orleans. Cabe ressaltar aqui que há outros elementos na previsão de neve. Porém os apresentados já denotam a situação verificada.
Um bom fim de semana a todos e até a próxima postagem!
DADOS: CPTEC/INPE, EPAGRI-CIRAM, CLIMATERRA, INMET, LIVRO A NEVE NO BRASIL,