Ontem a baixa pressão formada pelo Vórtice Ciclônico de Altos Níveis - VCAN (área com circulação ciclônica na alta troposfera) que avançara do Chile, ganhou intensidade e formou ao longo da tarde um ciclone extratropical sobre o estuário do rio da Prata na Argentina. Nas três figuras de análise de ventos e pressão ao nível médio do mar, podemos ver as posições do ciclone as 9h e 21h de ontem e as 9h de hoje. Note o rápido deslocamento do sistema 24 horas.
Ao intensificar, o ciclone extratropical por ser um centro com baixa pressão do ar (994 hPa na análise de hoje), acaba causando adveção de ar frio polar, formando uma frente fria, que finalmente avança nesta sexta-feira provocando chuvas pelo estado. A região com maiores acumulados de precipitação foi o sul e planalto sul. Em Timbé do Sul, por exemplo, choveu 38,0mm durante todo o dia. Já em Turvo, a precipitação foi de 14,8mm. Em São Joaquim, o valor chegou a 17mm. Confira mais detalhes na tabela abaixo.
Cidade (ESTAÇÃO | Chuva (mm) sexta-feira |
Timbé do Sul (CIRAM) | 38,0 |
São Joaquim (CIRAM) | 17,0 |
Turvo (CIRAM) | 14,8 |
Jacinto Machado (CIRAM) | 14,6 |
Araranguá (INMET) | 14,4 |
Meleiro (CIRAM) | 13,4 |
Urussanga (INMET) | 10,8 |
Na imagem de satélite abaixo, podemos ver a nebulosidade associada a frente fria. Os pontos em azul são a detecção de descargas elétricas na região, ou seja, houve temporal associado a chuva.
Analisando a figura com o índice de instabilidade K, vemos que ele está mais significativo e mais abrangente no sul e planalto sul, justamente onde mais choveu. Esse valor mais alto do K, indica que havia mais umidade na troposfera, bem como bastante variação vertical de temperatura, o que explica a presença das descargas elétricas.
A umidade associada a frente fria, era transportada pelo jato de baixos níveis, que são correntes de ventos quentes e úmidos a 1500 metros de altitude, o que ainda faz parte da baixa troposfera. Esse jato é bem visto na figura abaixo, formando um corredor em cor azul, com orientação noroeste-sudeste.
Nesta noite, apesar de a frente fria no mar em direção ao ciclone extratropical, um cavado (área alongada de baixa pressão) começa a instabilizar novamente o sul do Brasil, sobretudo o RS e divisa com SC. Na imagem infravermelha colorida do satélite GOES-12, é possível ver essa situação. O cavado é representado pelos traços em amarelo, sendo que como ele está em acima dos baixos níveis troposféricos, o ar inferior ascende na borda nordeste/leste do sistema, formando assim a nebulosidade.
Junto ao cavado que instabiliza o tempo, temos a entrada do ar frio polar, um dos mais significativos do ano, senão o maior. O estado já sente a entrada desse ar, sendo que as temperaturas, mesmo com céu encoberto, já estão abaixo dos 15ºC no planalto sul e litoral sul catarinense. Em Urupema, as 23h fazia 12,1ºC. Já em Criciúma, 12,7ºC.
Ao longo do sábado, espera-se que o ar frio adentre com mais força pelo território catarinense ao longo do dia. A chuva continua por conta do cavado. No domingo, a presença desse cavado e a advecção de forte ar polar, deve dar condições para ocorrência de neve na serra catarinense, principalmente em Urupema, São Joaquim, Bom Jardim da Serra e Urubici. Além da neve, não se descarta chuva congelante, que acontece quando a neve ao cair encontra uma camada intermediária mais quente. Logo depois dessa camada, o ar volta a ficar mais frio, fazendo a chuva congelar e chegar ao solo.
DADOS: INMET, CPTEC/INPE, EPAGRI-CIRAM, MARINHA DO BRASIL, METSUL, CLIMATERRA
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