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sexta-feira, 1 de julho de 2011

ANÁLISE DO MÊS DE JUNHO-2011

O mês de junho de 2011 foi bastante frio em todas as regiões de Santa Catarina. O período chamou a atenção tanto pela temperatura média muito baixa, quando pelos picos de frio que apresentou. No quesito chuva, o estado ficou dividido, sendo que alguma parte da precipitação foi em forma de neve na região serrana a parte do meio-oeste. Nesta postagem, o leitor verá todos esses pontos, com a devida explicação técnica para cada evento meteorológico atuante.

Como foi anunciado anteriormente, junho de 2011 chamou a atenção pela temperatura média mensal, bem como número de dias frios e os picos de frio. Começando pelos dois primeiros itens, nota-se que a maior parte do mês apresentou valores máximos de temperatura iguais ou inferiores a 23ºC. O único dia em que esquentou um pouco mais foi dia 16, quando fez 26ºC em Urussanga. No planato serrano e meio-oeste, estes valores não ultrapassam os 18ºC, sendo que a tarde mais fria de junho foi a do dia 27, onde mesmo com sol, a máxima foi de apenas 2ºC no Morro da Igreja em Urubici e 4,2ºC em São Joaquim.

Em média, praticamente durante todos os 30 dias de junho, as temperaturas mínimas, ou seja as registradas pela manhã, tiveram marcas abaixo ou igual a 15ºC, mesmo no litoral. No planalto serrano e meio-oeste, esse valor ficou abaixo dos 8ºC.

Em termos de picos de frio, quem liderou o estado foi Urupema, onde houve 14 dias com temperaturas negativas. A menor temperatura do mês e por enquanto do ano foi por lá, onde fez incríveis -9ºC no dia 28. Além de Urupema, outras 28 cidades catarinense tiveram temperatura abaixo de zero ao longo do mês. As menores foram de -7,6ºC em Ponte Serrada (meio-oeste), -6,8ºC em São Joaquim (planalto sul) e -6ºC em Monte Castelo (planalto norte). Em relação a média climatológica, o mês de junho foi até 3ºC mais frio, tanto nas mínimas quanto nas máximas. A figura abaixo mostra melhor essa condição.

figura: anomalia de temperatura mínima; figura: anomalia de temperatura máxima
A geada aconteceu em boa parte do mês, sobretudo no planalto sul. Em Urupema e São Joaquim, o fenômeno foi registrado em 14 dias. Em terceiro lugar, o município com mais registros do fenômeno foi Joaçaba. Durante o mês, sobretudo na super onda de frio do dia 28 (veja a postagem), houve também geada em Três Barras, Lebon Régis, Água Doce, Treze Tílias e Jaborá, Dionísio Cerqueira, Chapecó, Florianópolis, Braço do Norte e Joinville. Na capital, desde 2001 não era registrado geada. Segundo a Climaterra, é possível que aconteça o fenômeno no bairro Ratones a cada três anos, em média, dependendo da intensidade do ar frio.

Já a neve, fenômeno comum no inverno catarinense, aconteceu entre as 16h do dia 26 e as 6h do dia 27. O fenômeno não foi constante, sendo precipitado em forma de pancadas (granular e flocos) sobre São Joaquim, Urupema, Urubici, Morro da Igreja, Bom Jardim da Serra, Herval do Oeste e Joaçaba. Apenas na Serra do Rio do Rastro e no Morro da Igreja houve certa acumulação.

Em relação a precipitação em forma de chuva, o primeiro parágrafo também resume bem como foi o mês. Mais especificamente, o mês de junho foi marcado por chuva entre normal e abaixo do normal no centro-leste catarinense. Já no oeste (principalmente) e meio-oeste, a precipitação acumulada ficou acima da média climatológica esperada para junho. Na região de Chapecó, por exemplo, chegou a chover 200mm a mais que o normal, ao passo que o litoral teve deficiência de 100mm. Porém, é válido salientar que apesar dos altos valores de chuva no oeste e meio-oeste, junho não pode ser considerado chuvoso, pois tais precipitações foram em forma de temporais ou apenas chuvas diárias.

Na figura abaixo, podemos acompanhar mais amplamente as anomalias de precipitação acumulada em junho, comparada com a média climatológica de 30 anos. Os dados são do INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) e CIRAM (Centro de Informações de Recursos Ambientais  e de Hidrometeorologia de Santa Catarina).

Os fenômenos mais atuantes durante o mês foram as frentes frias, frente estacionária, cavados (áreas alongadas de baixa pressão) e formação de ciclones extratropicais (ciclogênese). Os que provocaram chuvas mais intensas foram as ciclogêneses e uma frente estacionária. O último sistema citado, chegou a provocar 109mm de chuva em São Miguel do Oeste no dia 21. Inclusive, neste dia houve a suspeita de tornado durante uma tempestade no município de Galvão.

Analisando a figura abaixo, com anomalias de temperatura superficial do mar, podemos notar que o fenômeno climático La Niña (circulado na figura), que é o resfriamento das águas do oceano Pacífico equatorial, ainda persiste e possui desvios negativos de até 1,5ºC em relação a média climatológica. Já no oceano Atlântico observa-se que as águas mais quentes estão afastadas da costa. 
Esse conjunto de fatores, fez com que as massas de ar polar, impulsionadas por ciclones extratropicais, adentrassem pelo interior da região Sul do Brasil e não ficassem ejetando umidade no litoral por muito tempo. Já no oeste e meio-oeste, a umidade advinda da floresta amazônica mediante a cavados e ciclogêneses, provocou os valores altos e pontuais de chuva. 

Os períodos mais intensos de frio registrados nos últimos invernos e inclusive o deste ano, estão ligados ao resfriamento do planeta, que segundo o meteorologista Luiz Carlos Molion, deve seguir nos próximos 20 anos. Tudo graças a uma variação decadal de temperatura do oceano Pacífico (o maior oceano do planeta) chamada PDO, que é o resfriamento e aquecimento das águas deste oceano a cada 30 anos, influenciado pelo ciclo de atividade solar de 11 anos. Como estamos no resfriamento, os eventos de La Niña tendem a serem mais intensos que os eventos de El Niño.

DADOS: INMET, NOAA, CPTEC/INPE, CLIMATERRA, EPAGRI-CIRAM, METSUL, AGRITEMPO.

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