Entre a sexta-feira e o sábado, acontecia um processo denominado frontogênese na Argentina, o que significa a formação de um sistema frontal, que naquele caso, era uma frente fria. Ao longo do sábado e domingo, a frente fria avançou devagar e foi desviada para o mar ao largo da costa sul brasileira. Isso aconteceu devido a um bloqueio atmosférico estabelecido no oceano Pacífico Sul, que dura desde sexta-feira, e que acaba alterando as correntes de jato, culminando em bloqueio de sistemas transientes e no fortalecimento do ar seco no interior do Brasil. Por isso, a frente fria se tornou estacionária entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul na tarde de domingo, como é representado na imagem de satélite abaixo, ilustrada sinoticamente. A frente estacionária é a linha alternada entre azul e vermelho, com triângulos apontados para norte e semicírculos apontados para sul.
Como a frente estacionária já é uma área com baixa pressão atmosférica, os ventos quentes e úmidos da floresta amazônica (figura abaixo) começaram a convergir para dentro do território catarinense, o que tornou o ar ainda menos denso, pois o ar úmido diminui a pressão atmosférica.
Com a chegada de calor e umidade e a presença de bastante ascenção do ar ao longo da frente estacionária, nuvens de desenvolvimento vertical se espalharam pelo estado, ficando distribuídas por todas as regiões. Do oeste a Serra, a chuva foi mais tempestuosa e houve granizo. Já nas demais áreas a precipitação aconteceu em forma de pancadas ao longo desta segunda-feira, sendo de intensidade moderada a forte por alguns momentos, com algumas descargas elétricas.
Granizo em Joaçaba em 28/08/2011 |
A começar pelo oeste e meio-oeste, as 23h vários municípios apresentavam chuvas e temporais isolados, sendo que Joaçaba, Jaborá e Capinzal, houve granizo (foto acima). O granizo foi possível devido a entrada de um pequeno cavado na média troposfera, que declinou as temperaturas neste nível e levou o ponto de congelamento do ar para níveis abaixo dos 4100 metros, além do aumento da umidade nesta altura. Isso pode ser visto na próxima figura.
Associado a queda do nível onde a água congela, bem como aumento de umidade, havia bastante ascenção do ar em algumas áreas, o que é verificado pelo ômega (velocidade vertical do ar) negativo, representado nas cores vermelhas, onde o ar estava subindo (figura abaixo).
Durante a madrugada desta segunda-feira, a chuva com trovoadas ganhou o litoral, onde houve várias descargas elétricas e pancadas fortes de precipitação líquida. Durante o dia, seguiu-se com alternância entre chuviscos e pancadas de chuva por vezes forte. Em Novo Horizonte, além da precipitação de 27mm as 11h da manhã, o vendaval trouxe rajadas de até 122km/h, segundo a estação do CIRAM. Como algumas regiões tiveram aberturas de sol, o ar se aqueceu e assim aumentou a energia potencial disponível para convecção, o que terminou com a formação de mais nuvens verticais, do tipo Cumulunimbos sobre o estado. A imagem de satélite abaixo mostra bem isso, sendo que as cores azul escuro e rosa representam os topos mais altos, com temperatura de até -80ºC.
Por volta das sete horas desta noite, vários pontos do estado tinham chuva moderada a forte, detectadas pelo radar meteorológico do Morro da Igreja (cores entre amarelo e vermelho na figura abaixo).
Em Campos Novos, Meio-Oeste, a chuva chegou a acumular 28,6mm em menos de uma hora de duração, sendo que perdurou durante o período todo, com registro de granizo. O granizo também foi registrado durante a tarde em Capinzal, Ouro, Erval Velho, Criciúma, Balneário Rincão e Forquilhinha. Veja nas fotos abaixo.
Granizo em Capinzal-SC |
Granizo em Erval Velho-SC |
Granizo em Forquilhinha-SC |
As regiões que mais acumularam chuva nesta segunda-feira foram o Planalto Sul, Litoral Sul, Grande Florianópolis e Alto Vale. Os maiores valores foram de 95,2mm em Urubici, 90,6mm em Urupema e 62,4mm em São Joaquim. Confira mais detalhes na tabela montada pelo blog Paulo Tempo.
Cidade (ESTAÇÃO | Precipitação 24h (mm) | Região |
Urubici (INMET) | 95,2 | Planalto Sul |
Urupema (CIRAM) | 90,6 | Planalto Sul |
São Joaquim (INMET) | 62,4 | Planalto Sul |
Jacinto Machado (INMET) | 61,4 | Litoral Sul |
Urussanga (INMET) | 59,0 | Litoral Sul |
Campo Belo do Sul (CIRAM) | 57,8 | Planalto Sul |
Criciúma (CIRAM) | 55,4 | Litoral Sul |
Turvo (CIRAM) | 54,8 | Litoral Sul |
Bom Jardim da Serra (CIRAM) | 54,2 | Planalto Sul |
São José (INMET) | 47,2 | Grande Fpólis |
Além dos estragos pelo granizo e vento forte, a chuva excessiva trouxe deslizamentos de terra e alagamentos. Os maiores problemas com alagamentos foram em Florianópolis, Palhoça, Lages, Balneário Camboriú e Balneário Gaivota. A defesa civil orienta que as pessoas fiquem atentas ao risco de deslizamentos, pois o CIRAM prevê ainda mais chuva para as próximas horas.
DADOS: INMET, CPTEC/INPE, EPAGRI-CIRAM, MARINHA DO BRASIL, DIÁRIO CATARINENSE, PORTAL EDER LUIZ, PORTAL ENGEPLUS
FOTOS: PORTAL EDER LUIZ, PORTAL ENGEPLUS
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