Nesta primeira postagem de 2012, vou voltar um pouquinho no tempo para mostrar a vocês a análise e informações sobre a chuva dos últimos dias de 2011, do momento da virada de ano e os primeiros dias de 2012. Já na última quinta-feira do ano passado, quando o tempo parecia melhorar e fez frio de 4,6ºC na Vila Francioni em São Joaquim, a instabilidade retornou ao estado. Durante a sexta-feira, o centro de alta pressão da massa de ar frio que outrora havia adentrado, se posicionou no oceano, advectando umidade marítima para o leste catarinense.
Até aí tudo bem, circulação marítima. Contudo, no sábado, véspera de 2012, entrou em ação o chamado Vórtice Ciclônico de Altos Níveis - VCAN (sistema de baixa pressão atmosférica na alta troposfera). Os ventos úmidos de leste/sudeste provenientes do oceano podem ser visto na primeira figura abaixo, junto com o relevo catarinense nas partes coloridas. Na segunda figura, temos a posição do VCAN na análise de ventos lá no alto da troposfera, em torno de 12km de altitude.
O VCAN decrescia a pressão atmosférica em sua borda nordeste a superfície, fazendo aumentar o gradiente de pressão entre esta área e o anticiclone frio no oceano Atlântico. O resultado foi o aumento na altura das nuvens e sua capacidade de provocar chuvas mais intensas, sendo de moderada a forte em alguns locais, sobretudo no estado gaúcho. Em Santa Catarina, as nuvens se concentraram no centro-leste, como é visto na imagem do satélite GOES-12 no canal visível.
Na tabela abaixo, você confere os maiores valores de chuva acumulada entre o sábado e esta segunda-feira em SC, nas estações do CIRAM, INMET, DEFESA CIVIL e algumas particulares.
Cidade (ESTAÇÃO) | Precipitação (mm) entre 31/12 e 02/01 | Região |
São José (INMET) | 108,6 | Grande Florianópolis |
Florianópolis (CIRAM) | 107,1 | Grande Florianópolis |
Timbé do Sul (CIRAM) | 83,8 | Litoral Sul |
Massaranduba (INMET) | 76,4 | Litoral Norte |
São Francisco do Sul (INMET) | 70,6 | Litoral Norte |
Itajaí (INMET) | 68,8 | Litoral Norte |
Criciúma (CIRAM) | 60,2 | Litoral Sul |
Urussanga (INMET) | 58,8 | Litoral Sul |
Em algumas áreas, como comentado, houve chuvas mais intensas num curto espaço de tempo. Isso se deve ao fato que além da umidade marítima, houve ingresso de umidade da floresta amazônica a 1500m de altitude, principalmente direcionada para o Planalto Serrano e Sul do estado, como mostra a figura de análise de ventos e umidade relativa do ar naquela altitude. Por isso na imagem de satélite aparecem nuvem com desenvolvimento vertical também no centro do estado.
Nessas regiões citadas no última parágrafo, um sistema de tempestade chamado de Linha de Instabilidade - LI, se formou e avançava. Essas LI provocam bastante chuva em pontos isolados num período curto de tempo. Em Araranguá, por exemplo, 9mm foram despejados em menos de uma no fim da tarde do sábado no pluviômetro do INMET. Já em São Joaquim, também na tarde da véspera de ano novo, choveu 13mm em menos de 1 hora.
Em Lages, apesar da chuva de apenas 2,4mm na estação convencional do INMET, a LI produziu uma frente de rajada, que é um espécie de mini frente fria numa tempestade. Uma das principais características visuais das frentes de rajada é a nuvem arco, que pode ser vista na foto abaixo, fotografada pelo nosso colaborador Eduardo Hames.
Nuvem arco em Lages-SC |
Nuvem arco em Lages-SC |
Segundo informações de Eduardo, ventou bastante após a passagem da nuvem arco, o que é esperado nesses eventos, pois há realmente bastante vento na retaguarda de uma frente de rajada. Na imagem do radar meteorológico da aeronáutica, podemos ver a LI, bem como os formatos de arco nas refletividades. Um arco bem definido é visto sobre Bom Jardim da Serra. Veja que uma chuva moderada/forte passava a sudoeste de Lages.
DADOS: INMET, CPTEC/INPE, EPAGRI-CIRAM, MARINHA DO BRASIL, REDEMET.
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