O anticiclone pós frontal no oceano Atlântico, continuou transportando umidade marítima para a costa catarinense durante a quinta-feira, através dos ventos de leste a sudeste. No entanto, a aproximação de um cavado (área de baixa pressão alongada) na alta troposfera pela Argentina, fez com que houvesse advecção de vorticidade ciclônica, o que favoreceu o maior levantamento do ar desde os baixos até os médios níveis da troposfera. Esse cavado é representando a figura de análise abaixo, pelos traços pretos, onde fica seu eixo que tem ar descendente, pois o ar ascende apenas na borda nordeste/leste.
Assim, a circulação de umidade marítima ficou mais acentuada e a chuva aumentou de intensidade. Na imagem do satélite Aqua com o sensor Modis em alta resolução (abaixo), vemos a faixa de nuvens formada pelo estado, sendo mais intensa no sudeste catarinense e Grande Florianópolis.
Isso acontece porque apesar de ter o cavado, o planalto catarinense não tinha de onde conseguir umidade, visto que o Jato de Baixos Níveis - JBN (ventos quentes e úmidos da floresta amazônica) não estava atuando. Na figura abaixo (ventos a 1500m de altitude), pode-se ver que os ventos estão indo em direção a floresta amazônica, mas não estão vindo dela para o Sul do Brasil. Já no leste, percebe-se que a circulação marítima converge para o litoral também nesta altitude, sobretudo o sudeste do estado.
Segundo dados do CIRAM (Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina) e INMET (Instituto Nacional de Meteorologia), boa parte das estações meteorológicas registram alguma chuva, sobretudo na Grande Florianópolis. Na capital catarinense, choveu 31,2mm nas 24 horas da quinta-feira. Nas demais cidades precipitou 22,2mm em Timbé do Sul, 19mm em São José, 9,6mm no Morro da Igreja em Urubici, 4,2mm em Jacinto Machado e 1,2mm em Indaial.
Como a capital foi a que mais registrou chuva, vejamos a sondagem feita com balão atmosférico no aeroporto Hercílio Luz as 22h de ontem, que está na figura abaixo. Ela mostra, entre outras variáveis, a temperatura (linha do lado direito), temperatura do ponto de orvalho (linha da esquerda), em vários níveis de altitude da troposfera, ou seja, uma visão vertical. Note que o traço vermelho lá embaixo representa a altura onde estava a base das nuvens. Já o segundo traço mais acima, é a altura onde estava o topo das nuvens que estavam sobre Florianópolis ontem a noite. Por essa sondagem, observa-se que a nuvem não possuía tanto desenvolvimento vertical, visto que seu topo estava em 3558m de altitude e sua base a 850m, que sugere presença de nuvens estratiformes com um pouco de desenvolvimento vertical. Muito provavelmente a capital estava sob a atuação das chamadas Nimbostratus.
No dia de hoje, sexta-feira, o céu ainda amanheceu com mais nuvens no leste de Santa Catarina, como mostra a foto abaixo, tirada em Itapema no litoral norte.
Itapema-SC |
Entretanto, no decorrer do dia o eixo do cavado em altos níveis da troposfera ficou encima do território catarinense, o que impediu a maior formação de nuvens devido ao movimento vertical subsidente, deixando mais restrita ao litoral, mas sem registro de chuva. Pelo contrário, o dia foi de sol acompanhado de nuvens do tipo Cúmulus Mediocris e Cumulus Congestus. As temperaturas se elevaram, chegando a 27,2ºC em São Miguel do Oeste, 26,9ºC em Criciúma, 26,7ºC em Urussanga, 26,2ºC em Turvo e 25,4ºC em Dionísio Cerqueira.
Segundo as previsões feitas oficialmente pelo CIRAM, o sábado deve ser de sol com bastante variação de nuvens no leste, podendo chover pela madrugada, manhã e noite no nordeste catarinense, inclusive a capital. As temperaturas se elevam, fazendo 30ºC no Oeste. Na serra, mínima de 7ºC prevista. No domingo o tempo muda em todo o estado, com chuva e trovoadas no fim do dia e noite.
DADOS: INMET, CPTEC/INPE, EPAGRI-CIRAM, MARINHA DO BRASIL, WYOMING, NOAA.
FOTO: TERRA WAVES