A intensificação de um sistema de baixa pressão sobre o Sul do Brasil, bem como sua conversão rápida para ciclone extratropical, processo denominado ciclogênese, provocou temporais e ventania em Santa Catarina entre ontem e hoje. Durante o período diurno de ontem, a aproximação de um longo cavado (área alongada de baixa pressão atmosférica) na alta troposfera pela Argentina, o qual contornado pelo Jato Subtropical (ventos fortes na alta troposfera da zona subtropicaal) advectava vorticidade ciclônica e assim impulsionava o movimento vertical do ar sobre o Sul do Brasil, favorecendo a queda da pressão atmosférica e consequentemente a convergência de umidade nos baixos níveis. Esse cavado é representado na figura abaixo pelos traço pretos.
Pela noite, já era notável a banda de nuvens associada ao ramo frontal frio associado a formação do ciclone extratropical. Na imagem do satélite GOES-12 (abaixo), é possível observar nuvens com topos frios a mais de 12km de altitude sobre Santa Catarina, sobretudo no Oeste, Meio-Oeste e Planalto Sul.
No Oeste, dados de Metar (código meteorológico usado pela aviação) de Chapecó reportavam chuva moderada com trovoadas entre as 22h e 23h de ontem a noite. A visibilidade horizontal chegou a cair para 4000m no aeroporto da cidade. Em Dionísio Cerqueira, a estação do INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) registrou chuva forte, com acumulado de 30mm em menos de uma hora de duração, sendo 40,2mm até o final da chuva. No município de São Miguel do Oeste, no mesmo período choveu 26,8mm.
Houve chuva intensa também no Planalto Sul e interior do Litoral Sul, acompanhada de descargas elétricas. Em São Joaquim, chegou a precipitar 46,6mm em menos de 6 horas. Timbé do Sul teve 43,8mm no mesmo período de tempo. Na imagem do radar meteorológico da aeronáutica localizado no Morro da Igreja Urubici, pode-se notar cores entre amarelo e vermelho sobre a divisa de SC com o RS por volta das 23h da segunda-feira, onde a refletividade detectava pelo radar era entre 35 e 50 dBZ, o que estimava chuva moderada a forte.
Radar meteorológico da aeronáutica as 23h de ontem |
No decorrer da madrugada desta terça-feira, a chuva foi se aproximando da Grande Florianópolis, Vale do Itajaí e Norte do estado. A intensidade não foi tão expressiva nessas regiões citadas, com exceção de Major Vieira e Monte Castelo (Planalto Norte), onde choveu 33,2mm e 28,4mm, repectivamente.
De maneira geral, os temporais não tiveram tanta severidade, sendo que o principal mesmo foram os valores de chuva, com quase 50mm em algumas cidades, num período inferior a seis horas. Isso se deve ao fato de a camada troposférica ter ficado úmida desde a superfície até uma altitude de 12km. Isso pode ser visto na figura abaixo, onde mostra um perfil vertical de umidade relativa e temperatura sobre SC, de oeste a leste, em várias altitudes.
Outro ponto a chamar a atenção, foi o fato de as descargas elétricas terem sido mais observadas no Oeste, Meio-Oeste, parte do Planalto Sul e Planalto Norte. Isso é explicado pelo cisalhamento vertical do ar nessas áreas, que é a mudança brusca da direção e velocidade do ventos com a altitude. Esse fator acaba permitindo a maior agitação do gelo dentro das nuvens, gerando diferença de potencial elétrico e assim formação das descargas elétricas. Na próxima figura, temos o índice Sweat, que mostra bem esse cisalhamento. Note que justamente os valores mais altos desse índice aparecem sobre as áreas onde mais houve raios.
Na manhã desta terça-feira, os ventos já começaram a ganhar velocidade sobre Santa Catarina, sobretudo no sudeste do estado, incluindo também a Grande Florianópolis. As rajadas de vento chegaram a alcançar 106,9 km/h em Laguna, litoral sul catarinense. Ventou forte também em São José com 71,6 km/h, Florianópolis com 69,8 km/h e Urussanga com 47,9 km/h. Na figura abaixo, tem-se uma noção da área onde ventava forte as 10 horas da manhã de hoje. O ciclone extratropical estava com centro um pouco alongado sobre o leste/sudeste do RS.
Na foto abaixo, tirada por nosso colaborador José Luiz Mattei, vemos o céu encoberto pela manhã em Orleans, após a chuva com trovoadas que ocorreu no início do dia. Como não há estação meteorológica por lá, temos como base Urussanga, onde choveu 23mm. Ao fundo da imagem, é possível observar a Serra Geral.
Orleans-SC |
Mais precisamente as 18h, o ciclone extratropical (letra B) já estava sobre o mar ao largo da costa gaúcha, com pressão atmosférica central de 1004 hPa (Hectopascal). Na imagem de satélite ilustrada sinoticamente por mim, a partir de dados observados naquele momento, vê-se essa situação. Note que a banda frontal fria já se afasta do leste catarinense.
Segundo previsões do CIRAM, a quarta-feira deve ser de sol e calor desde o oeste até o litoral norte e Grande Florianópolis, com máximas de até 29ºC. Do Meio-Oeste ao Litoral Sul, a parte oclusa do ciclone deve deixar o céu nublado com chance de chuva.
DADOS: INMET, CPTEC/INPE, EPAGRI-CIRAM, MARINHA DO BRASIL, REDEMET.
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