Para resumir o sábado e domingo que passou, podemos colocar a palavra variável, ou então instável. Nem foi totalmente chuvoso, mas não foi sem chuva. Houve temporais isolados em algumas áreas, sobretudo no Oeste, Meio-Oeste e Planalto Sul catarinense. Outras, apenas chuva, na maior parte de forma fraca e isolada.
No sábado, um Vórtice Ciclônico de Altos Níveis - VCAN (sistema de baixa pressão na alta troposfera) se deslocava pelo oeste da Argentina, provocando nebulosidade convectiva na sua borda. Esse sistema, emitia pulsos ciclônicos, que formaram um cavado (área alongada de baixa pressão atmosférica) em altitude sobre o nordeste da Argentina (figura abaixo).
O cavado, aumentava a convergência de umidade e calor entre a floresta amazônica, Sul do Brasil e países adjacentes, sendo que a corrente de ar quente e úmido (Jato de Baixos Níveis) pode ser vista na figura de análise das 9h do sábado (abaixo). Os ventos mais fortes são em vermelho.
Na manhã de sábado, os índices de instabilidade já estavam em acréscimo no território catarinense. Veja na figura abaixo, que o K estava entre 30 e 35 e o Totals entre 44 e 50. Isso denotava uma atmosfera bastante úmida e quente em baixos níveis.
Na tarde do sábado, um dos primeiros municípios a registrar temporais foi Joaçaba, Herval do Oeste e Luzerna. Essa última, teve vendaval, o que derrubou as árvores e interrompeu o fornecimento de energia elétrica (foto abaixo). As outras citadas, tiveram destelhamentos. Segundo dados da estação meteorológico do INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) em Joaçaba, os ventos alcançaram 63,3km/h, com acumulado de chuva de 7,8mm. O radar meteorológico da aeronáutica detectou a célula convectiva na região, sendo que as cores vermelhas indicam chuva forte.
Imagem de radar mostrando a célula de chuva |
Efeitos do vendaval em Luzerna-SC |
Imagem de radar mostrando chuva moderada/forte no norte |
Com isso, os temporais voltaram a acontecer na madrugada e manhã de domingo, sobretudo do Oeste ao Litoral Norte. Em Dionísio Cerqueira, a nova instabilidade trouxe formação de novos temporais. Na madrugada, o município foi atingido por vendaval com ventos de 70,5km/h e precipitação de 20,9mm. Novo Horizonte, também no oeste, teve tempestade com chuva de 9mm e rajada de vento de 64km/h. No Meio-oeste, o município de Água Doce teve temporal, com chuva de 9mm em poucos minutos. No Planalto Norte houve queda de granizo, como ocorrido em Mafra, onde choveu 7,2mm, como pode-se ver no vídeo abaixo feito por Lucas Vinicius.
Analisando o perfil vertical da troposfera as 9h do domingo em Mafra, onde ocorreu o granizo, vemos que havia bastante uma diminuição repentina na umidade relativa numa altitude de aproximadamente 3500m (área circulada ilustradamente), junto a uma temperatura abaixo de zero grau naquele nível. Isso indicava uma camada de ar seco e frio sobreposta ao ar mais quente e úmido, o que associado a forte ascendência do ar, provocou a formação do granizo. (clique para ampliar).
No decorrer do domingo, o cavado se deslocou por Santa Catarina e provocou chuvas isoladas em algumas regiões, ainda com temporais. Esse era o céu de Urussanga durante o período vespertino, na foto tirada por nosso colaborador José Luiz Mattei.
Urussanga-SC |
Durante a noite, por exemplo, o sistema formou uma linha de instabilidade entre o Planalto Sul e Litoral Sul catarinense. Na imagem do radar meteorológico da aeronáutica, você pode perceber cores entre amarelo e até vermelho, sobretudo no Planalto Sul. Na região de São Joaquim chegou a chover 22mm em poucos minutos. Segundo afirmou o engenheiro agrônomo Ronaldo Coutinho, aconteceram bastante descargas elétricas associadas.
Imagem de radar mostrando linha de instabilidade no sul de SC |
No fim do domingo, o Vórtice Ciclônico permitiu a entrada de ar seco e frio na retaguarda do cavado, convertendo-o em uma nova frente fria, que deslocou-se entre o litoral catarinense e oceano Atlântico na madrugada desta segunda-feira. Aos poucos, uma nova massa de ar frio e seco adentrou no estado, sendo de fraca intensidade. Na manhã desta segunda-feira, a umidade remanescente da última chuva acabou resfriando em contato com o ar mais frio, provocando nevoeiro, que foi forte em alguns lugares. Na capital, chegou a afetar as operações do aeroporto Hercílio Luz.
Na figura abaixo, temos a radiossondagem atmosférica feita as 9h de hoje em Florianópolis, mostrando entre outras variáveis a temperatura e temperatura do ponto de orvalho em cada nível de pressão (ou altitude). Note na área circulada ilustradamente, que a temperatura sofre uma inversão, ou seja, sobe repentinamente com a altitude, o que denomina-se inversão térmica de superfície, que permite a condensação da umidade e formação de nevoeiros.
Os nevoeiros fizeram a temperatura mínima aumentar ao longo da noite, sendo que a menor temperatura do dia foi no início da madrugada, antes dos nevoeiros. O sistema frontal evoluiu sobre o mar e tinha um ciclone extratropical associado (figura abaixo), o qual tinha 1000 hPa de pressão atmosférica central. DADOS: INMET, CPTEC/INPE, EPAGRI-CIRAM, MARINHA DO BRASIL, NOAA, WYOMING.
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