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sábado, 20 de agosto de 2011

ÁREA DE BAIXA PRESSÃO ALONGADA PROVOCOU CHUVAS INTENSAS EM SC

Uma área de baixa pressão alongada (cavado) se deslocou ontem pelo território catarinense, a começar pelo oeste do estado. Esse cavado é representado na figura abaixo pelos traços pretos. 
Com a presença desse sistema, que induz a ascenção do ar, acontece um aumento na convergência de umidade entre a floresta amazônica e o nosso estado. Esses ventos são denominados Jato de Baixos Níveis, sendo que sopram de noroeste numa altitude de aproximadamente 1500m. Na figura abaixo, vemos esse Jato pelas cores vermelhas, avançando pelo Paraguai e parte do Sul do Brasil e ainda sudoeste do MS.
Na animação de imagens do satélite GOES-12 no canal infravermelho realçado, podemos acompanhar a nebulosidade vertical formada pelo cavado, avançando de oeste para leste sobre Santa Catarina.


A primeira região a receber as chuvas foi o oeste catarinense, por volta das 6 horas da manhã. As precipitações foram aumentando de intensidade, ficando moderada próximo do meio-dia, se estendendo para as demais áreas. A última região a ter chuva foi o leste do estado, onde o fenômeno foi acusado pelas estações meteorológicas a partir das cinco horas da tarde.

Em muitos municípios, a chuva se tornou mais intensa na virada de ontem para hoje. O radar meteorológico localizado no alto do Morro da Igreja em Urubici (figura abaixo), identificava  refletividade de até 40 dBZ (entre amarelo e laranja claro) nas gotículas de água por volta das 00h:30 de hoje sobre parte do Litoral Sul, Planalto Sul e Vale do Itajaí, o que estima uma precipitação moderada sobre estas áreas. Como a cobertura desse radar não abrange o oeste, vamos pelas estações, as quais tiveram uma taxa de mais ou menos 8mm/h, porém vale ressaltar que a chuva moderada durou alguns minutos.
Imagem do Radar Morro da Igreja as 00h30 local
Um pouco antes, por volta das 22h de ontem, o mesmo radar detectava chuva também moderada no Meio-oeste, mais precisamente entre os municípios de Celso Ramos e Abdon Batista, como mostra a figura abaixo. Nas últimas 24 horas, essa mesma área teve entre 20 e 30mm acumulados de chuva.

Imagem do radar Morro da Igreja as 22h local
Nesta sexta-feira, durante o dia ainda houve outros episódios de pancadas de chuva. perto do meio-dia, municípios do oeste e meio-oeste voltavam a ter precipitação moderada. Olhando o radar meteorológico do Morro da Igreja as 12h:00, nota-se novamente núcleos com refletividade próxima de 40 dBZ sobre o meio-oeste, indicando chuva moderada. No oeste, para termos uma idéia podemos pegar a estação do INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) em São Miguel do Oeste, que teve precipitação de 10,6mm as 11h.
Imagem do radar Morro da Igreja as12h local
Esse acréscimo na intensidade das chuvas se deu em virtude do deslocamento do cavado para o mar a leste da costa gaúcha. Com o avanço de um outro cavado, este nos altos níveis da troposfera pela Argentina (figura abaixo), bem como o aumento na intensidade do Jato Subtropical (Ventos fortes na alta troposfera), o cavado de baixos níveis que havia ido para o mar, sofreu ciclogênese e se converteu em um ciclone extratropical. 
O ciclone acabou formando um ramo frontal frio, cujo qual entrou no estado e aumentou a intensidade das chuvas. Na imagem de satélite abaixo, vemos a nebulosidade e os sistemas descritos na análise, ou seja a frente fria, representada pela linha com triângulos em azul, bem como o ciclone extratropical representado pela letra B circulada.
Outro ponto interessante a analisar e que contou na intensidade das chuvas, foi a diminuição drástica da umidade acima dos 3km de altitude. Nas figuras abaixo, temos o perfil de umidade entre baixos e altos níveis da troposfera sobre SC. A primeira figura mostra a análise de ontem as 21h. Já a segunda é a análise das 9h de hoje. Compare e veja o ressecamento da troposfera. 
Perfil de umidade ontem a noite
Perfil de umidade hoje pela manhã
Essa situação, como descreve a meteorologista do DCA (Departamento de Ciências Atmosféricas) Maria Assunção F. Silva Dias em seu artigo, faz com que o ar só seja levantado a partir desse nível por um sistema frontal ou montanhas. Quanto mais a nuvem cresce, maiores também são as chances de granizo e vendavais. Até o momento não houve notícia de granizo. Já o vento associado aos temporais, alcançou algumas rajadas de 60 a 70km/h. Em Florianópolis, por exemplo, na hora da chuva a rajada máxima chegou a 64,2km/h.

O último episódio de pancadas de chuva durante a permanência da nebulosidade formada pelo cavado, foi ao longo do fim da tarde e início da noite, principalmente da serra ao litoral, quando a frente fria já estava no norte do estado.

Somando as pancadas de chuva e também a precipitação mais constante e fraca, tivemos acumulados bem próximos dos 100mm, principalmente no Oeste, Meio-oeste e Planalto Norte, regiões que mais tiveram chuva nas últimas 48 horas, sendo que o maior valor foi de 89mm em Novo Horizonte. Acompanhe mais detalhes na tabela abaixo. 

Cidade (ESTAÇÃO Precipitação 48h (mm) Região
Novo Horizonte (CIRAM)89,0Oeste
Porto União (CIRAM)80,6Planalto Norte
Água Doce (CIRAM)77,7Meio-Oeste
Canoinhas (CIRAM)72,0Planalto Norte
Irineópolis (CIRAM)69,2Planalto Norte
Dionísio Cerqueira (CIRAM)68,8Oeste
Major Vieira (INMET)66,2Planalto Norte
Rio das Antas (CIRAM)62,4Meio-Oeste
São Miguel do Oeste (INMET)61,8Oeste
Caçador (INMET)59,6Meio-oeste
Joaçaba (INMET)55,8Meio-Oeste
Campos Novos (INMET)52,4Meio-Oeste

Nesta noite, com o ciclone atuando e o ar frio polar incursando, os ventos se intensificaram e as temperaturas seguem diminuindo a cada região. O interessante foi o gradiente térmico entre o sul do estado e demais áreas do leste catarinense. Por volta das 22h, chegava a fazer 12,7ºC em Criciúma, ao passo que São José tinha 20,5ºC, sendo que a distância entre ambas as cidades não passa de 200km. O vento, como comentado, apresenta rajadas por vezes fortes. As mais altas foram de 86,4km/h em Laguna, 66,9km/h em Novo Horizonte,  63,3km/h em Siderópolis, 61,5km/h em Joaçaba, 57,6km/h em São José e 57,2km/h em Araranguá.

DADOS: INMET, CPTEC/INPE, EPAGRI-CIRAM, MARINHA DO BRASIL
Mapas de criação própria

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