Seja bem-vindo. Hoje é

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

INÍCIO DO FERIADÃO PROLONGADO FOI DE PRECIPITAÇÃO INTENSA NO LITORAL DE SC

Após muito tempo parado, enfim este blog e o blogueiro voltam a ativa. E já começamos com um evento de muita, mais muita chuva, sobretudo para os moradores da Grande Florianópolis, Litoral Norte e Litoral Sul durante a sexta (13/02) e sábado (14/02). Nesta postagem de retorno do blog Paulo Tempo, você vai conferir uma análise técnica e observacional do evento como um todo.

Como introduzido no primeiro parágrafo, a Grande Florianópolis (principalmente), Litoral Norte  e Litoral Sul catarinense enfrentaram acumulados muito altos de chuva em poucas horas, com período mais crítico entre a noite de sexta-feira e manhã de sábado, resultando em alagamentos e posteriormente deslizamentos de encostas. Municípios mais atingidos, segunda a defesa civil, foram Florianópolis, São José, Governador Celso Ramos e Balneário Camboriú. As imagens do radar meteorológico do Morro da Igreja, operado pela Redemet (Rede de Meteorologia do Comando da Aeronáutica), na noite da sexta-feira mostram a chuva forte que atingia o litoral.



De acordo com dados meteorológicos das estações monitoradas pela Epagri-Ciram, o município onde mais choveu foi Florianópolis. Para se ter uma ideia, a estação de Carijós na capital, registrou 178 mm de chuva em um período de aproximadamente 12 horas chovendo quase sem parar. Não bastasse isso, ainda voltou a chover no sábado durante a noite, despejando mais 24,4 mm, o que somou 202.2 mm em um período de 36h, sendo superior ao esperado climatologicamente para todo o mês de fevereiro em Florianópolis, que são 197 mm.

Na região da Grande Florianópolis como um todo, também choveu bastante. No Litoral Norte, o maior acumulado se deu em Barra Velha com 69,2 mm em 12 horas e 95,6 mm em 36 horas. Já no Litoral Sul, maior foi em Tubarão com 102,2 mm em 12h  e 112,8 mm em 36h. Na tabela abaixo, você confere mais detalhes dos maiores acumulados em 24h (07h de 13/02 e 07h de 14/02) e 48h (entre as 07h de 13/02 e 07h de 15/02), lembrando que o período chuvoso iniciou no fim do dia de sexta e se estendeu pela madrugada e manhã de sábado.

Cidade chuva (mm) 24hchuva (mm) 48h
Palhoça63,270
Florianópolis178202,4
São José96103,2
Tijucas62,291
Barra Velha69,295,6
Tubarão102,2112,8
Braço do Norte77,6112,6
Criciúma72,272,2

Vendo o evento do ponto de vista mais técnico, foi possível identificar que durante a sexta-feira, o leste de Santa Catarina tinha a influência de dois sistemas importantes: Uma frente fria passando pelo mar e um sistema de baixa pressão na frente da costa. Na figura abaixo, tem-se uma carta sinótica que ilustra bem esta situação. A frente fria é a linha com triângulos azuis e o sistema de baixa pressão é representado pela letra "B".

Carta sinótica - 14/02/2015 00h (GMT)

Até aí tudo bem. Havia circulação de umidade, calor específico disponível e a passagem de uma frente fria pelo oceano. Porém, não apenas o nível da superfície explica o evento. Teremos que visualizar os demais níveis. Na figura abaixo, temos um diagrama meteorológico chamado Skew-t, que é plotado a partir de radiossondagens realizadas duas vezes por dia nos aeroportos brasileiros. Ela mostra um perfil vertical da troposfera, sendo que a linha preta e grossa da esquerda é a temperatura do ponto de orvalho e a da direita é a temperatura do ar. Esse é o de Florianópolis na noite da sexta-feira.
Diagrama meteorológico Skew-t
Perceba que desde a superfície até uma altitude de 5880 m as duas linhas pretas e grossas ficam bem juntas. Isso significa que toda essa camada estava muito, mais muito úmida, chegando ao pontos de saturação em boa parte dela. O nível de altitude até onde vai essa camada úmida é chamado já de média troposfera. Ou seja, metade da troposfera estava com uma quantidade grande de umidade, seja na forma de nuvens ou de vapor d'água. Sistemas de tempestade que se desenvolvessem na capital e região da Grande Florianópolis, teriam como característica a chuva intensa e não propriamente severidade. E foi o que aconteceu. 

Mas por que tanta umidade? Uma explica direta é o oceano, que está mais quente que o normal na costa sul brasileira. Isso acaba gerando mais evaporação e assim os sistemas de baixa pressão levam mais umidade para dentro da costa. Além disso havia umidade circulação entre o norte do Brasil e SC. Na figura abaixo, vemos a anomalia de temperatura superficial do mar, destacando as anomalias positivas na nossa costa. 



A chuva persistiu por quase todo o feriadão, mas diminuindo de intensidade na segunda-feira, apresentando mais períodos de melhoria. O sistema de baixa pressão se deslocou devagar para longe da costa, o que contribuiu para esse quadro.

DADOS: REDEMET, EPAGRI-CIRAM, INMET, DIÁRIO CATARINENSE, NOAA, UNIVERSITY OF WYOMING

Nenhum comentário: