Na postagem especial de hoje você terá a oportunidade de acompanhar uma breve entrevista inédita feita por mim com o meteorologista José Fernando Pesquero, do CPTEC/INPE. Segue abaixo a entrevista.
Há quanto tempo trabalha no CPTEC?
12 anos
Em que Universidade você é formado?
Instituto Astronômico e Geofísico (IAG) - Universidade de São Paulo (USP)
Por que você escolheu meteorologia?
No ginásio nunca tive professores bons de física e assim achava que tinha uma certa queda para fármacia, mas tinha que ser faculdades gratuitas, pois meu pai não tinha nenhum recurso. Durante as aulas do cursinho tive a maior sorte de encontrar excelentes professores de física. Não deu outra, troquei as tentativas para física, pois tinha preguiça de ler aquele manual enorme de cursos da USP. Tentei dois anos e nada. Depois que eu resolvi ler com muito cuidado a relação de todos os cursos achei meteorologia muito mais interessante que apenas física. Entrei! E aqui estou...
Como é ser um meteorologista?
Fascinante! É um serviço em que não existe a palavra rotina.... todos os dias acontecem fatos novos... novas descobertas. Vou todos os dias ao trabalho como se tivesse começado a trabalhar ontem. Muito empolgado.
Qual sua opinião sobre a meteorologia no Brasil?
Em uma absurda expansão desde que eu me formei. Dei a maior sorte. O Brasil hoje é reconhecido mundialmente como um centro que está no nível excelente para um continente de terceiro mundo. Se você não gostar muito de pesquisa como eu e, tiver mais queda por vendas, muitos amigos resolveram sair daqui para montar empresas e os que são bons de vendas e de meteorologia não param de crescer. Temos muitos funcionários aqui no CPTEC que são de vários países da América Latina. O CPTEC é sem dúvida o maior da América Latina.
Há algum fenômeno atmosférico que você gosta mais? Por quê?
Não. Não é questão de gostar, mas sim respeitar. Queria um dia poder ver de perto um tornado e poder tirar algumas fotos, lógico. Porém, não os fracos que existem no Brasil e sim os mais intensos que existem nos EUA. Só que nunca tive tempo para ir atrás deste assunto. Teria que ser algo por acaso.
Estamos vendo nos meios de comunicação notícias sobre as alterações climáticas. O famoso aquecimento global, o qual já virou até moda pois tudo que acontece relacionam a ele. Qual sua opinião a respeito?
Ele não é moda. Sempre esteve presente conosco e está cada vez mais forte. A diferença agora é que temos modelos numéricos e super-computadores robustos o suficiente para elaborarmos modelos atmosféricos do futuro. Outra coisa foi que a imprensa brasileira se apaixonou por este assunto.
Considerações finais do meteorologista:
Queria falar sobre a diferença entre aquecimento global e ilhas de calor. As ilhas de calor que estão acontecendo nas grandes cidades brasileiras estão modificando o clima local, por exemplo, são Paulo teve sua temperatura média aumentada em 2,5ºC nos últimos 30 anos. Porém se um dia algum político resolver arrumar a cidade não deixando mais ela crescer e resolver melhorar o padrão de vida de quem mora lá plantando muitas e muitas árvores e trocando empresas poluidoras por empresas tecnológicas. A temperatura irá diminuir localmente de 1.0ºC ou até 1.5ºC nos outros 30 anos. Porém as mudanças climáticas globais não são como as ilhas locais de calor. A temperatura no Estado de São Paulo sobe, em média, de 0.8ºC a 1.2ºC a cada cem anos. Estes valores são baixos e os períodos são longos... pra que se preocupar?. Porém estes valores sobem demais no futuro podendo chegar até 3.0ºC/100 anos em alguns lugares da América do Sul. A diferença do aquecimento global com a ilha de calor é que no aquecimento global não temos como parar este aquecimento nem se, de repente, toda a poluição do planeta fosse desligada. Se um dia isto acontecesse, a Terra só conseguiria limpar toda a sujeira que a gente fez após 300 anos. Hoje estão bem evidentes o aumento do nível do mar devido e o derretimento do ártico no verão. Há derretimento de neves eternas das montanhas mais altas do Planeta. Estes derretimentos podem vir a trocar algumas circulações oceânicas e ai viriam as conseqüências ainda mais devastadoras que os nossos modelos começaram a alcançar agora. Por exemplo, a modelos dão claramente o início de uma nova era glacial na Europa.
O que devemos fazer? Em algumas cidades, árvores são seres que destroem o asfalto, a calçada, fios elétricos e fazem sujeira com as folhas. Solução: corte imediato. Porém estas pessoas não são inteligentes o suficiente para se lembrar de compensar os benefícios das árvores. Elas trazem tantos benefícios que têm o direito de fazerem o que querem e muito mais. Devemos deixá-las lá em plantarmos muito mais. Os EUA finalmente se tocaram que ninguém precisa de uma pick-up de 2.0 metros de largura por 6 metros de comprimento para ir sozinho ao serviço. Finalmente, os donos de carros americanos estão pedindo carros menores e com motores menores para poluir menos. Aqui no Brasil, nós estamos fazendo o contrário. As pick-ups de tamanhos extravagantes com motores de 3.0 cilindradas estão vendendo absurdamente no Brasil e, como os americanos, para levar uma única pessoa ao serviço. Carros enormes são confortáveis, sim são. Porém pense que seus netos irão trabalhar andar de bicicleta.
EUA e China deveriam se lembrar que países encobertos por água e sem habitantes não tem poder de compra. Sendo assim deveriam trabalhar de forma a manter seus consumidores para os próximos 500 anos.
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Queria agradecer ao meteorologista José Fernando Pesquero por participar desta entrevista. É bom saber que podemos contar com essa grande equipe que é o CPTEC/INPE.
