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terça-feira, 21 de setembro de 2010

DO CAVADO AO SISTEMA CONVECTIVO DE MESOESCALA

Havia comentado na última postagem sobre o La Niña (resfriamento anormal das águas do oceano Pacífico Equatorial e costa do Equador e Peru), que prorroga as características de inverno até o fim de Outubro. Com essa prorrogação, ocorre ainda entradas de ar frio polar, que se encontram com o ar mais quente tropical que se estende nessa época para a região Sul do Brasil em virtude da própria posição da terra na órbita solar. O resuldado são essas tempestades que estão ocorrendo entre ontem e hoje em Santa Catarina, além de chuva contínua em várias áreas.

Ontem, essas chuvas foram localmente fortes e mal distribuidas. Na imagem de satélite de ontem as 9 horas da manhã, podemos ver o sistema convectivo que cobria boa parte do Estado. Note as áreas entre azul claro e escuro, onde a temperatura do topo das nuvens estavam entre -50 e -60ºC, sobretudo entre o Vale e Planalto Norte.


A rede Rindat naquele horário detectava diversas descargas elétricas cobrindo o Estado, como pode-se observar na imagem abaixo.
A chuva foi tão mal distribuída, que pouco acumulou nas estações meteorológicas. Não que tenha chovido pouco, mas sim que precipitou muito isoladamente, ou seja, em alguns pontos e outros não. Houve ocorrência de ventos fortes na manhã de ontem, associados as chuvas e temporais, registrando 44km/h em Major Vieira e 52,2km/h em Florianópolis. O ar estava tão instável, que a medida que o sistema ia deslocando-se para leste durante a tarde, iam formando-se outras células de convecção no interior.

Ontem essas instabilidades se organizavam devido a um cavado invertido (área alongada de baixa pressão atmosférica), como foi anunciado também na última postagem. Porém no dia de hoje, esse cavado intensificou-se e gerou um Sistema Convectivo de Mesoescala (SCM), comuns nessa época. O motivo para isso é a queda de pressão atmosférica ao longo do cavado provocada pelo aumento da velocidade vertical do ar na área, ou seja, o ar estava subindo muito rápido. Isso é evidenciado na figura abaixo, onde as áreas em azul sinalizam as em que o ar está se elevando. Note que essa área abrange o leste de SC e oeste do RS.

O que auxiliou nessa forte ascendência foi a chamada divergência de ventos em altitude, que são desencontros de ventos nesse nível, lá no alto da atmosfera. Sendo assim, com a forte divergência, o ar da superfície se viu obrigado a subir e gerar as nuvens com forte desenvolvimento vertical. Na figura abaixo, com análise de ventos em 200 hPa, em torno de 10 mil metros de altitude, podemos notar esse desencontro dos ventos bem nas regiões onde havia forte levantamento de ar.
Com esse ar ascendendo rapidamente, a pressão sobre o Sul do Brasil decaiu, atraindo ventos de noroeste, chamados de Jato de Baixos Níveis, que chegam úmidos da floresta Amazônica. Na figura com análise de ventos e umidade específica as 9 horas de hoje, podemos notar esse jato. Perceba que tudo começa com o vento que provem do anticiclone (letra A) localizado ali no Atlântico. Dessa circulação saem os chamados ventos alísios, os quais entram no Brasil, chegam na Amazônia e se "alimentam" de umidade (áreas em azul). Ao avançarem acabam se chocando com a Cordilheira dos Andes e são desviados para o Sul do Brasil. Como tivemos uma queda de pressão, esse ventos acabam ficando muito forte naquela altitude e forma-se então o Jato de Baixos Níveis.
Toda essa condição sinótica da atmosfera, determinou a organização e o crescimento de nuvens com alto desenvolvimento vertical associadas ao SCM. No horário das figuras de análise acima, praticamente todo o Sul do Brasil estava encoberto por essas nuvens, denominandas Cumulunimbos, as únicas que podem provocar granizo, raios e vendavais.  Veja a imagem do satélite abaixo.


O sistema de detecção de raios do CPTEC, novamente localizou descargas ao longo do SCM, como é visto na imagem abaixo.

Em Santa Catarina esse sistema provocou chuvas bem acima do que vinha se registrando nos últimos dias, com acumulados superiores a 30mm em muitas cidades. Em Blumenau, após 46 dias sem chuva, a estação do Ciram acumulou 24,2mm nesta terça-feira, sendo que desde ontem já foram 38,7mm. A cidade onde mais choveu desde ontem foi São Joaquim, com 76,8mm. Acompanhe na tabela abaixo, os valores de precipitação acumulada em algumas catarinenses desde ontem, lembrando que os maiores se concentraram no dia de hoje.

Cidade/EstaçãoChuva 48h (mm)
São Joaquim (CIRAM)76,8
Curitibanos (INMET)75,4
Aurora (CIRAM)74,8
Lages (CIRAM)70,3
Rio do Oeste (CIRAM)65,3
Ponte Alta (CIRAM)65,0
Celso Ramos (CIRAM)59,2
José Boiteux (CIRAM)54,6
Painel (CIRAM)52,4
Ouro (CIRAM)51,3
Blumenau (CIRAM)38,7
Joinville (CIRAM)37,1
Major Vieira (INMET)33,9
Timbé do Sul (CIRAM)29,3
São José (INMET)16,1

O vento associado a chuva e temporais isolados apresentou rajadas durante hoje, sobretudo pela manhã e início da tarde. Segundo dados do Ciram e Inmet, houve vento máximo de 67,4km/h em Araranguá, 71,9km/h em Chapecó, 70,9km/h em Água Doce e 60km/h em Campo Belo do Sul.

A tendência nas horas é da dissipação do SCM, que dura em média 18 horas. Uma frente fria de fraca intensidade avança nessa próxima madrugada, mas se torna estacionária, provocando tempo chuvoso nos próximos dias dessa semana em território catarinense.

DADOS: INMET, CPTEC/INPE, EPAGRI-CIRAM.

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