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quinta-feira, 30 de setembro de 2010

QUARTA-FEIRA TEVE GRANIZO NO SUL CATARINENSE


As fotos acima, disponíveis no site do portal Engeplus, mostram a grande quantidade de granizo que se precipitou em Criciúma e Orleans, ambas no sul do Estado. O fenômeno começou logo depois das dez horas da noite de ontem e segundo o portal durou cinco minutos. De acordo com moradores, o tamanho das pedras era maior que uma bolinha de gude. Boa parte das duas cidades registraram o fenômeno, comum nessa época do ano, como já destacado neste blog.

Observe a imagem do satélite GOES-12 no horário do ocorrido:


É notável que no horário em que houve o granizo, não há sinais de grande desenvolvimento vertical das nuvens Cumulunimbos na imagem.Isso se deve a resolução do satélite GOES-12, bem como todos os outros geoestacionários. Portanto, tendo em vista o registro de granizo, é quase impossível que não houvesse nuvens com profundo desenvolvimento vertical naquela área.

Outra solução para melhor avaliar seria imagens de radar, pois este trabalha com refletividade de ondas na horizontal, gerando um perfil melhor de nuvens não vistas nos satélites. É muito melhor, por exemplo, verificar células que geram tornados através de imagens de radar do que por meio de satélites. Entretanto, o radar meteorológico do Morro da Igreja, o mais próximo, se encontra há meses em manutenção. A solução foi recorrer a outro radar, o do Simepar, que é o órgão meteorológico do Paraná. Consegui uma imagem desse radar na hora da precipitação de granizo. Porém, o meteorologista Cezar Duquia do Simepar, a quem agradeço imensamente por ter enviado a imagem, salientou que a área de cobertura máxima e confiável do radar é num raio de 400km. Na periferia desse raio, onde está justamente Lauro Muller e Criciúma, os valores podem não denotar a intensidade real da tempestade. A imagem segue a seguir.


Perceba, que ele só detecta acima da região alvo, ficando ainda mais distante de Criciúma. A intensidade na área colorida detectada pelo radar, mostra chuvas entre fraca e moderada, com pontos de intensidade mais forte.

O motivo para a ocorrência dessa tempestade que levou a precipitação de granizo, na verdade foram fatores combinados e que entre si deram a possibilidade da formação. Primeiramente tinhamos a formação e deslocamento um ciclone extratropical no delta do Rio da Prata, como pode ser visto na figura abaixo, com a análise de ventos e temperatura as 21 horas de ontem.
Perceba que mesmo a noite, estava quente no leste catarinense. As estações do CIRAM ontem no sul do estado, inclusive registraram temperaturas máximas bem superiores ao dias anteriores. A máxima chegou a 27,5ºC em Urussanga e 26,6ºC em Criciúma. O que provocava este aquecimento era o ingresso de ar quente de norte, antecedendo a frente fria gerada pelo ciclone. A umidade relativa estava elevada durante o dia também no sul do estado, como mostra o gráfico a seguir, da estação meteorológica automática do CIRAM em Criciúma. Veja que o valor mínimo diário foi de 62%.

Em altitude, tinhamos a presença do jato subtropical (ventos fortes em altitude), que estimula a elevação do ar quente e úmido da superfície até níveis superiores da atmosfera. Na figura abaixo, é possível ver esse jato, por meio das áreas coloridas, destacando a atuação dele sobre SC.
Bom, tinhamos ar quente e úmido em superfície, estímulo para subida desse ar quente, além da aproximação de uma frente fria. No entanto, dois fatores primordiais se juntaram aos anteriores para a formação expressiva do granizo. Segundo artigos científicos publicados pela meteorologista Maria Eugênia do grupo MASTER, as tempestades severas, ou seja, aquela com granizo mas sem grandes acumulados de chuva, acontecem quando há uma camada de ar úmido em superfície e outra camada com ar muito seco a partir de uma altura de aproximadamente 3000 metros. Além disso, é preciso que a temperatura a 5000 metros de altitude esteja muito baixa.

Na figura a seguir, tem-se um mapa com análise de temperatura em 5000 metros de altitude (linhas) e umidade específica em 3000 metros de altitude (colorido).
Observe pelas isolinhas de temperatura a 5000 metros de altitude, que o valor de -15ºC passava apenas pelo sul do Estado catarinense, fazendo intersecção com o ar muito seco a 3000 metros de altitude, comprovado pelo baixo valor de umidade específica (vermelho escuro) sobre esta área.

Com a elevação rápida do ar quente estimulado pelo jato subtropical, a camada de ar seco acima dos 3000 metros e temperatura muita baixa na média troposfera, o granizo conseguiu se formar e chegar intacto até o chão.

Nesta quinta-feira, o ciclone segue deslocando-se lentamente para sudeste em alto mar. Como a frente fria formada por ele passou, o vento aqui em Santa Catarina já virou para o quadrante sul, com velocidades de 57,2km/h em Laguna e 32km/h em Araranguá. Agora a noite esses ventos já sopram de sudeste, indicando o progressivo afastamento do ciclone ainda mais para o oceano. Em breve postagem especial com uma síntese e análise do mês de setembro. Aguarde!

DADOS: CPTEC/INPE, SIMEPAR, EPAGRI-CIRAM, INMET, MARINHA DO BRASIL, PORTAL ENGEPLUS.

(agradecimentos ao meteorologista Cezar Duquia do Simepar, por enviar a imagem de radar)

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