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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

CHUVAS EXCESSIVAS EM SC; RECORDE DE GELO NA ANTÁRTIDA; DERRETIMENTO DAS GELEIRAS DO ÁRTICO. HÁ RELAÇÃO?

O fenômeno La Niña é o resfriamento das águas equatoriais do oceano Pacífico leste, e que reflete em diminuição significativa das chuvas no Sul do Brasil. Isso acontece devido a mudança no padrão de circulação atmosférica, que favorece a diminuição na velocidade das chamadas correntes de Jato Subtropical (ventos fortes a 10km de altitude) e assim a passagem mais rápida  e pouco chuvosa de sistemas frontais. Entretanto, pelo menos nos últimos três meses, estamos tendo o contrário do que era esperado, ou seja, a chuva está além da média climatológica em Santa Catarina. Se analizarmos os dados de precipitação acumulada em relação ao normal durante o mês de janeiro desse ano, veremos anomalias positivas sobre todo o centro-leste do estado (figura abaixo), sendo que no Vale do Itajai o desvio passou dos 200mm.


Se estamos sob a influência do La Niña, no mínimo as chuvas deveriam estar em torno do normal e abaixo disso. Porém um outro fator está trabalhando junto: o oceano Atlântico. Isso mesmo! O oceano Atlântico está cerca de 1,5ºC mais quente que o normal sobre a a costa sul do Brasil, além da costa uruguaia e argentina. Na figura abaixo, com anomalias de temperatura superficial do mar, vemos essa "mancha" anômala (cor avermelhada) destacada neste parágrafo.
Perceba que essa mancha vermelha também é percebida quase na mesma latitude sobre o hemisfério norte. Coincidência ou não? Segundo o meteorologista e membro brasileiro da OMM (Organização Meteorológica Mundial) Luiz Carlos Baldicero Molion, esse aquecimento anormal das águas do oceano Atlântico é provocado pelo ciclo lunar de 19 anos. No pico desse ciclo, o campo gravitacional da lua sobre a terra aumenta, fazendo os oceanos terem uma elevação de 12cm em seu nível entre as latitudes 30º do hemisfério norte e 30º do hemisfério sul, ou seja, toda a faixa tropical do planeta. Essa elevação foi comprovada em 2007 e 2008 no estado do Alagoas. É bom deixar claro que esse fator se soma a mudança no curso de rios e ocupação humana desordenada nas regiões costeiras.

Com o nível do mar mais alto na faixa tropical do planeta Terra, cria-se um desnível entre essa região e as latitudes mais altas, formando uma rampa. Essa rampa aumenta a velocidade das correntes marítimas quentes que saem do equador, que conseguem assim alcançar regiões como a costa da Argentina e oceano glacial Ártico. Dai aquelas manchas de água mais quente mostrada anteriormente. No Ártico, a corrente marítima do Golfo atinge velocidade maior em função dessa rampa, conseguindo então passar por baixo das geleiras e derrete-las. Por isso se falou tanto em derretimento de geleiras do Ártico nos últimos três anos. No gráfico abaixo, é possível ver que a cobertura de gelo no Ártico teve o menor valor desde 1979.
Agora, o que pouco se divulga é a cobertura recorde de gelo na Antártida (gráfico abaixo), ou seja, o contrário do que está ocorrendo no Polo Norte, sobretudo em 2010. Isso acontece porque como o oceano Atlântico Sul está mais quente que a média até aproximadamente o Círculo Polar Antártico, isso cria maior evaporação. Por meio de ciclones, esse vapor d'água chega até o continente Antártico, onde o frio intenso forma precipitações na forma de neve, aumentando a cobertura de gelo/neve sobre esse continente.
Na costa catarinense vimos na segunda figura deste post, que a temperatura superficial do mar está 1,5ºC mais alta que a média. Isso acaba gerando mais evaporação e formação de áreas de baixas pressões que seguidamente trazem tempo instável, com chuvas e temporais. Por falar em pressão baixa, segundo os mapas do CPTEC/INPE, os valores médios de pressão atmosférica durante o mês de janeiro ficaram até 4 hPa abaixo da média climatológica sobre o Sul do Brasil, como mostra a figura abaixo (área selecionada).


Pressões mais baixas também causam ingresso de umidade da floresta Amazônica. A ZCAS (Zona de Convergência do Atlântico Sul), que todos os verões atua provocando grandes precipitações entre o norte e sudeste do Brasil, chegou a descer até a altura do norte catarinense no início deste mês (figura abaixo), visto que este sistema está associado com temperaturas oceânicas mais altas, convergência de umidade amazônica e frentes estacionárias no alto mar. 


O La Niña , segundo o CPTEC/INPE, deve perdurar até o meio deste ano, contribuindo para um outono com frio de inverno. Porém o Atlântico deve exercer papel nesse contexto, deixando o Outono mais úmido no litoral e sujeito a granizo acima da média devido ao ar frio da estação.

DADOS: CPTEC/INPE, EPAGRI-CIRAM, MARINHA DO BRASIL, NOAA

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