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terça-feira, 13 de dezembro de 2011

TERÇA-FEIRA DE FORTES TEMPESTADES E QUEDA DE GRANIZO EM SANTA CATARINA


A presença ainda do Vórtice Ciclônico de Altos Níveis - VCAN (Sistema de baixa pressão na alta troposfera) no Uruguai, bem como a atuação do Jato Subtropical (ventos fortes na alta troposfera), causaram juntos advecção de vorticidade ciclônico, formando uma área de baixas pressões atmosférica desde a média até a baixa troposfera sobre Santa Catarina. Na análise de ventos acima, é possível ver o VCAN e o Jato Subtropical (ver legenda de ventos).

Dessas baixas pressões atmosférica, um sistema de baixa pressão se desenvolveu numa altitude de 1500 metros sobre quase a mesma região do VCAN. Com isso, ventos de noroeste provindos da floresta amazônica começaram a migrar para o sistema, passando por Santa Catarina, como mostra a próxima figura.


Na imagem do satélite GOES-12 com detecção de descargas elétricas, vemos as nuvens com desenvolvimento vertical em parte de Santa Catarina, com topos frios de até -70ºC e muitos raios detectados. É uma visão ampla do que cobria o estado na tarde tempestuosa de ontem.


Com a presença do VCAN, houve advecção de ar frio na média troposfera, o que fez o nível de congelamento do ar descer para altitudes inferiores a 4000 metros, onde a umidade relativa estava elevada também. Veja essa condição na figura de análise abaixo.


Observe que desde o Oeste até o Litoral Sul, o nível de congelamento estava entre 3800 e 3900 metros. Como havia bastante levantamento do ar nessas áreas, houve registro de granizo. O fenômeno foi registrado em São Joaquim, Água Doce, Herval do Oeste, Lages, Içara, Criciúma e Nova Veneza. Em São Joaquim, foram duas quedas de granizo, sendo a primeira na madrugada, onde destruiu pomares da região. Em Água Doce, as pedras de granizo (foto abaixo) causaram destruições e se acumularam no chão. Em Lages, Criciúma e Nova Veneza, cinegrafistas amadores filmaram o fenômeno. Outro vídeo mostra a acumulação do granizo no interior de Herval do Oeste.

Granizo em Água Doce-SC

Granizo em Lages

Granizo em Nova Veneza-SC

Granizo em Içara-SC

Granizo em Criciúma-SC

Granizo em Herval do Oeste-SC

No Planalto Sul e Litoral Sul os temporais iniciaram-se já pela manhã, principalmente próximo do meio-dia, quando foram registrados os granizos. A maior precipitação da região foi de 57mm em São Joaquim, 55,2mm em Araranguá e 49,4mm em Laguna. Na imagem do radar meteorológico da aeronáutica, podemos notar várias células convectivas alinhadas, com precipitação de moderada a forte, onde a refletividade é de até 45 dBZ. O vento foi forte, chegando a 66,2 km/h em Laguna e 61,9 km/h em Araranguá.

Por volta das 14h, já chovia em boa parte da faixa litorânea do estado, sobretudo na Grande Florianópolis, como mostra a próxima imagem do radar meteorológico da aeronáutica.

O que o radar mostrava, realmente estava acontecendo na Grande Florianópolis. Choveu muito em pouco tempo. Para se ter uma idéia, só na primeira hora de chuva, o pluviômetro acusou 58mm. Na estação do INMET em São José, o acumulado chegou a 70,2mm em menos de três horas de duração. No bairro Capoeiras em Florianópolis, choveu 65mm no mesmo período, registrado por uma estação particular. Na foto abaixo, tirada por mim no bairro Capoeiras, vê-se a chegada da tempestade em forma de um arco, que indicava a presença de ventos intensos atrás dela. No bairro foi registrado rajadas de 53 km/h.
Tempestade chegando em Florianópolis-SC
Outra foto de outro ponto de Florianópolis, tirada por Clóvis Matte , mostrava a pesada cortina de chuva que passava pela capital catarinense. Veja também a presença de "franjas" em forma de arco na frente da precipitação, também indicando ventos intensos.
Tempestade chegando em Florianópolis-SC
A colaboradora do blog, Jaqueline Estivalet, fotografou uma nuvem funil durante a chegada da tempestade, que segundo ela por pouco não gerou uma tromba d'água. A própria precipitação rápida desfez o funil.

Nuvem funil em Florianópolis-SC
Perto de onde a nuvem funil havia se formado, ocorria uma grande desastre em função da forte chuva. Uma pedra de 200 toneladas deslizou sobre casas no Morro da Mariquinha. Além disso, vários alagamentos foram registrados na região.

Em São José, um cinegrafista amador colocou um vídeo no site Youtube, mostrando a tempestade. Veja que a imagem chega a ficar branca, de tanta chuva. Como viu-se antes, choveu 70,2mm em menos de 3 horas por lá. Veja que ventava também no vídeo, com rajadas de 55,8 km/h, segundo a estação do INMET.


 Tempestade em São José-SC

Essa tempestade que atingiu São José e Florianópolis, foi a chamada frente de rajada, que é uma espécie de "mini frente fria" que se forma quando correntes fortes de ar frio descendem na traseira da tempestade, levantando o ar quente e úmido na vanguarda, por isso se formou aquela "franja". Uma das características de uma frente de rajada é a rápida virada do vento aumento de velocidade, queda da temperatura em poucos minutos e aumento rápido da pressão atmosférica. Isso de fato aconteceu. Em São José, a temperatura caiu de 25,2ºC para 19,7ºC, o vento virou de norte para sudeste e a pressão subiu de 1009,1 hPa para 1012,4 hPa. Nos gráficos de vento, temperatura e pressão atmosférica abaixo, podemos ver essa situação.


No Litoral Norte, também choveu muito em poucas horas. Os maiores acumulados foram de 70mm em Jaraguá do Sul, 69mm em São Francisco do Sul e 44,2mm em Itapoá nas estações do INMET, além de 38,9mm em Joinville numa estação particular. Em Jaraguá do Sul, o temporal causou alagamentos graves e erosão de margem dos rios. Houve ventos fortes acompanhados da chuva, chegando a 60,1 km/h em Itapoá.

Deu para perceber que as chuvas em Santa Catarina, sobretudo na parte litorânea, tiveram uma característica única: Choveu muito em pouco tempo. Isso pode ser explicado pela figura abaixo, onde temos um perfil vertical da troposfera sobre Santa Catarina de oeste a leste, mostrando valores de temperatura e umidade.

Note que a camada com maior quantidade de umidade  vai desde a superfície até a média troposfera (em torno de 8km de altitude). Acima disso, temos um ar muito seco e frio. Essa condição, gera muita precipitação de forma severa, ou seja, chuva abundante em pouco tempo, em forma de tempestades. 

Na Grande Florianópolis e Litoral Norte, onde particularmente foram as regiões mais chuvosas, veja na figura abaixo que o índice de instabilidade Totals estava alto com valores acima de 54 (cor roxa).

No Meio-Oeste, o destaque mesmo foi a grande quantidade granizo, que acumulou por horas no chão. A chuva foi mal distribuída, com até 17,2mm em Caçador e apenas 2,6mm em Campos Novos. No Oeste, houve pancadas de chuva bem isoladas, com até 14,6mm em Novo Horizonte.

DADOS: INMET, CPTEC/INPE, EPAGRI-CIRAM, MARINHA DO BRASIL, RINDAT, PORTAL EDER LUIZ, PORTAL ENGEPLUS
Mapas de criação própria

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