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quinta-feira, 15 de março de 2012

APÓS MUITOS DIAS SECOS, FRENTE FRIA TROUXE CHUVA E GRANIZO EM SC

Desde o último evento de chuva, lá no início de desse mês de março, tivemos dias com tempo seco devido a influência de uma massa de ar seco, a qual era favorecida pelo ar descendente sobre o estado. As temperaturas facilmente ultrapassavam os 30ºC, chegando a superar 35ºC nas áreas mais quentes do Vale, extremo Oeste e Litoral Sul catarinense. Na terça-feira, a estação meteorológica do CIRAM (Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina) chegou a registrar temperatura máxima de 38,9ºC. Na quarta-feira, Indaial no Vale do Itajaí teve máxima de 37ºC. Durante a tarde de domingo, a capital teve 34ºC no bairro Itacorubi. 

O mesmo ar seco que provocava o calorão durante o dia, favorecia a diminuição da temperatura durante as noites devido a quase ausência de nuvens, que causa grande perda da radiação infravermelha para o espaço. Na Serra catarinense, apesar do "calorzinho", houve registro de temperaturas mínimas de 8,7ºC em Bom Jardim da Serra e 9,2ºC em São Joaquim. Em Florianópolis por exemplo, podemos ver no gráfico de temperaturas abaixo, que apesar dos mais de 30ºC de máxima, as mínimas caíam para 22ºC, geralmente registradas nesta época no fim da madrugada antes do sol nascer. 

Na terça-feira, apesar do predomínio do ar seco em todo o território catarinense e as temperaturas muito altas a tarde, a aproximação de uma frente fria favoreceu o fluxo de umidade da floresta amazônica para o estado em virtude do aumento no gradiente de pressão atmosférica. Somado a isso, temos os efeitos locais para formação de células convectivas, como proximidade com superfícies líquidas (rios, lagos, oceano) e montanhas. Na imagem do satélite GOES-12 no canal infravermelho com realce na noite da terça-feira, vemos as células convectivas formadas no Oeste e Sul do estado. 


No Oeste, de acordo com informações oficiais, o município mais atingido foi Itapiranga (fotos abaixo), onde a tempestade destruiu um aviário de 124 metros de comprimento e matou cerca de 17 mil frangos, na localidade de Linha Cotovelo. O Ginásio de esportes de Santa Fé Alta também foi totalmente destruído pelo vento. Árvores foram derrubadas. A estação meteorológica do CIRAM em Itapiranga infelizmente não possui anemômetro, mas em relação a chuva o pluviômetro registrou 12,4mm durante o evento. No sul do estado houve informação de chuva forte em Lauro Muller, mas sem estragos. Em Criciúma, apesar de as duas estações do CIRAM não terem detectado vento forte, o internauta Darci Ant. Althoff via Twitter informou sobre vendaval no bairro São Defende.

Ginásio destruído pelo vento em Itapiranga-SC
Árvore caiu encima de uma moto na rodovia em Itapiranga-SC
Durante a quarta-feira, a entrada da frente fria no extremo sul catarinense contribuiu para gerar o aquecimento pré frontal, que é aquele pico de calor antes da chegada do sistema. Isso acontece devido ao fato de o ar quente convergir e se concentrar na vanguarda do sistema frontal. Como de costume nesta época do ano, a frente fria passou apenas pelo litoral catarinense, desta vez pelo extremo litoral sul. Na figura de análise abaixo, onde temos os valores de temperatura a 1500m de altitude, nota-se que o ar frio pós frontal estava quase todo concentrado no oceano Atlântico.


Na imagem do satélite GOES-12 no canal infravermelho com realce as 17h, pode-se observar a frente fria passando pelo litoral sul do estado, quase desviando para o oceano Atlântico. Uma linha de instabilidade (linha de nuvens com vários temporais aglomerados) associada ao sistema frontal. 


O que também contribuiu para a instabilidade sobre o estado mesmo sem a chegada ainda da frente fria, foi a presença de um cavado (área alongada de baixa pressão atmosférica) na média troposfera (6km de altitude) sobre o Paraguai e nordeste da Argentina, visto na figura de análise abaixo (os traços pretos representam o eixo do cavado, onde o ar é seco).


Mais depois, já por volta das 17h:45min, a mesma linha de instabilidade chegava a região do Vale do Itajaí. No município de Mirim Doce o temporal provocou destelhamentos e queda de parte da fiação elétrica devido o vento. Em Blumenau, apesar dos poucos 5,2mm de precipitação acumulada na estação meteorológica do Grupo RBS, o colaborador do blog Paulo Tempo Marcos Gall registrou granizo do tamanho de bolas de ping-pong, como pode-se ver nas fotos abaixo.

Granizo em Blumenau-SC
O radar meteorológico da aeronáutica detectou o granizo (área vermelha circulada) na região de Blumenau naquele horário, como vê-se abaixo. 


Para a formação do granizo, é preciso que o nível de congelamento da água caia para altitudes mais baixas, a umidade esteja alta e o ar esteja com forte ascendência. Isso faz com que o granizo faça várias "viagens" verticais dentro da nuvem de tempestade, onde vai agregando novas gotículas de água que congelam ao redor e fazem o granizo aumentar de tamanho. O nível de congelamento mais baixo permite que esse granizo consiga cair quase integro na superfície, que nesse caso era Blumenau. Nas duas figuras  abaixo, temos em uma a análise de nível de congelamento e na outra o índice Lifted. O nível de congelamento havia caído para menos de 4500m. O índice Lifted estava justamente mais negativo sobre o Vale, além do litoral e parte do meio-oeste, o que indica que a temperatura da parcela estava mais alta do que a do ar vizinho, favorecendo sua ascensão devido a diferença de densidade. Por essas duas figuras, também é notável que muitas partes do leste podem ter registrado também granizo, sobretudo no litoral sul.


Na mesma imagem do radar mostrada anteriormente, vemos uma linha de chuvas moderadas a fortes em formato de arco sobre a Grande Florianópolis (ilustradamente circulada), o que era uma frente de rajada, ou seja, uma "mini frente fria" dentro de uma linha de tempestade. O mecanismo de funcionamento dela é: a descendência do ar frio na sua retaguarda provoca forte levantamento do ar remanescente, provocando as chamadas nuvens Shelf Cloud (nuvem de prateleira), que se assemelham rolos escrespados na frente da cortina de chuva. As características de uma frente de rajada são a brusca que da temperatura em menos de uma hora, aumento rápido da pressão atmosférica e variação violenta na velocidade e direção do vento instantâneo. Isso pôde ser verificado por exemplo em Santo Amaro da Imperatriz, onde em poucos minutos o vento virou de norte/noroeste para sudoeste, a velocidade subiu para 68,5 km/h, a temperatura caiu de 27,0ºC para 21,5ºC e a pressão atmosférica (ao nível da estação) teve aumento de 989,1 hPa para 991,8 hPa. Choveu 8,9mm durante a tempestade por lá.

De maneira geral, os maiores valores de chuva durante a passagem dos temporais da frente fria e do cavado de médio nível troposférico, foram de 55,6mm em Campos Novos, 24,6mm em São Francisco do Sul, 20,6mm em Major Vieira e 20,5mm em Imbuia. No Oeste, onde a estiagem segue intensa, choveu muito pouco, com apenas 2,2mm em São Miguel do Oeste e nenhuma gota em Xanxerê.

DADOS: CPTEC/INPE, EPAGRI-CIRAM, INMET, CLIMATERRA, REDEMET, PORTELA ONLINE, DIÁRIO CATARINENSE
FOTOS: COLABORADOR MARCOS GALL

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