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quinta-feira, 22 de março de 2012

CAVADO E FRENTE FRIA PROVOCARAM VENDAVAIS E GRANIZO

Durante a quarta-feira, dia 21 de março, o céu claro e a presença de uma massa de ar quente favoreceram forte aquecimento diurno sobre todo o estado de Santa Catarina. Para se ter uma ideia, chegou a fazer 36,5ºC em Tubarão. Ao longo da tarde, um cavado (área alongada de baixa pressão atmosférica) adentrava o estado catarinense nos baixos níveis da troposfera (da superfície até 1500m de altitude). Na figura de análise de ventos e pressão atmosférica ao nível médio do mar (abaixo), vemos o eixo desse cavado representado pelos traços pretos.


O cavado, por ser uma área com baixa pressão atmosférica, possui ar ascendendo. Para substituir esse ar que subiu, há uma forte convergência de ventos nos baixos e médios níveis da troposfera, que por sua vez traz umidade para o sistema, fazendo com que o ar que está subindo possa gerar nuvens, quando encontra pressões menores e se resfria por expansão adiabática. Esses ventos úmido aos quais me refiro, são provenientes da floresta amazônica, principalmente a 1500m de altitude (figura abaixo), onde já há poucas barreiras topográficas que possam causar atrito. 


Juntamente a atuação do cavado, havia uma frente fria de fraca intensidade passando pelo mar junto ao litoral gaúcho e litoral sul catarinense. Na primeira figura desta postagem, podemos ver a mudança dos ventos de oeste/noroeste para sul/sudoeste sobre o mar na altura já de Laguna. Na imagem do satélite GOES-12 infravermelha com realce, as seis horas da tarde, podemos notar a formação das nuvens com alto desenvolvimento vertical sobre Santa Catarina.

Essas nuvens, chamadas de Cumulunimbos, provocaram tempestades pelo estado, sobretudo no Vale do Itajaí, Grande Florianópolis e Litoral Norte. No Vale do Itajaí, o município de Rio do Sul teve falta de energia em 80% da cidade em virtude de um vendaval associado ao temporal. No vídeo abaixo, postado no site Youtube, podemos ver a força dos ventos por lá.


Infelizmente não há estação meteorológica por lá para que possamos saber a velocidade do vento. No entanto, pela imagem do radar meteorológico da aeronáutica, observa-se que antes de chegar em Rio do Sul, a célula convectiva apresentava uma curvatura na retaguarda, o que indica fortes ventos nesse local, sinalizado pela seta na figura do radar abaixo.


No Litoral Norte, os maiores estragos pelo temporal foram em Jaraguá do Sul e Corupá, onde o vendaval destelhou casas e derrubou árvores. O vendaval foi tão rápido e isolado, que a estação meteorológica da Defesa Civil na Barra do Rio Cedro em Jaraguá do Sul registrou velocidade do vento de apenas 20,9 km/h. Choveu 21,6mm em menos de duas horas de duração.

Na Grande Florianópolis, o que impressionou foram os vários registros de granizo, como em Florianópolis nos bairros Itacorubi, Trindade e Capoeiras, em São José no bairro Praia Comprida e em Palhoça nos bairros Madri, Passa Vinte, Pedra Branca e Caminho Novo. O de São José foi gravado e pode ser visto abaixo, retirado do site Youtube.


O vento também foi intenso no momento da tempestade, porém bastante variado e isolado. Em Florianópolis, a estação meteorológica particular localizada no bairro Capoeiras registrou rajada de 61,1 km/h, enquanto que outra na Lagoa da Conceição teve 42,6 km/h e o aeroporto Hercílio Luz detectou 26 km/h. Em São José, a estação do INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) no bairro onde aconteceu o granizo, registrou rajada de vento de 84,2 km/h. Houve queda de energia elétrica por conta do vento em São José nos bairros Kobrasol, Barreiros, Floresta, Bosque das Mansões, Roçado, Forquilhinhas e Areias. Na imagem do radar meteorológico da aeronáutica por volta das 17h:30, podemos notar que essa tempestade também possuía uma curvatura em forma de arco na retaguarda (sinalizado para ilustração), o que condiz com ventos fortes, como de fato ocorreu na passagem do sistema.


Como visto, foi registrado granizo em oito localidades, nos municípios de Florianópolis, São José e Palhoça, sendo que outras áreas também podem ter presenciado o fenômeno. Olhando a análise de altura do nível de congelamento da água na troposfera, mostrada na figura abaixo, vemos que ela se encontrava em torno de 4300m sobre a região da Grande Florianópolis, sendo que a umidade relativa nesse nível estava de 90%, ou seja, quase na saturação.


Ao mesmo tempo, a análise do índice de instabilidade Lifted mostrava valores negativos sobre a região. Como a análise é das 21h, a parte mais negativa outrora estava mais recuada, ou seja, exatamente sobre a Grande Florianópolis.


O índice Lifted negativo indica que a parcela de ar que ascendia estava com temperatura bem mais alta que o ar ao seu redor, o que denota que ela ascendia com força. Isso causa grandes fluxos de ventos ascendentes e descendentes dentro da nuvem Cumulunimbos, fazendo as pedras de granizo "viajarem" verticalmente várias vezes e assim aglomerar mais gotículas que se congelarão e aumentarão o tamanho do granizo. O nível de congelamento mais baixo, por sua vez, faz com que o granizo se mantenha quase intacto antes de vencer as correntes ascendentes e cair sobre a superfície.

Em relação a chuvas, os maiores valores no leste foram de 34mm em São José, 22,6mm em Massaranduba e 17,8mm em Lontras. No Oeste, apesar das nuvens bem desenvolvidas vistas na imagem de satélite, não houve registro de chuvas nas estações meteorológicas. No Meio-Oeste, o maior valor foi de 32,2mm em Caçador. Durante a quinta-feira, a frente fria se deslocou para alto mar, porém mesmo assim o vento de sul adentrou a costa leste catarinense, dificultando a convecção e deixando no mais as chuvas estratiformes. 

DADOS: INMET, CPTEC/INPE, EPAGRI-CIRAM, REDEMET, DIÁRIO CATARINENSE, JORNAL PALAVRA PALHOCENSE.

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