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terça-feira, 23 de novembro de 2010

BLOQUEIO ATMOSFÉRICO NO ATLÂNTICO DIFICULTA DESLOCAMENTO DOS SISTEMAS NO SUL DO BRASIL

Inicio esta postagem perguntando a você qual foi a última frente fria que nos atingiu? Pois é, foi no dia 9 deste mês, quando o sul do estado teve um aquecimento pré frontal de até 40ºC, seguidos de temporais e granizo (veja), finalizando com frio abaixo de zero grau na serra. Desde lá, o sul do Brasil não recebeu mais nenhum sistema frontal pelo menos até esta terça-feira, sendo que as últimas chuvas e temporais tem sido provocadas única e exclusivamente por áreas de baixa pressão atmosférica vindas do norte da Argentina e/ou do Paraguai. Esse tipo de chuva até tem ajudado, porém se torna na maioria das vezes insuficiente por chover muito em poucas horas e em poucos lugares isolados, deixando boa parte da região sul com poucas chuvas.

A razão para esse atraso na chegada de frentes frias é um padrão de bloqueio atmosférico no sudeste do oceano Atlântico, o qual consiste na presença de um anticiclone (alta pressão) anômalo nos níveis superiores da troposfera, em torno dos 10km de altitude sobre aquela região do oceano. Esse anticiclone anômalo acaba fazendo as correntes de jato (ventos fortes em altos níveis) polar e subtropical desviarem dele, sendo que um dos jatos segue para sudeste e o outro para nordeste. Veja mais claramente na figura abaixo, feita da análise de ontem.


Em superfície, como resultado disso, a alta pressão subtropical do Atlântico (massa de ar tropical Atlântica) fica mais ao sul que sua posição climatológica. Como os jatos polares desviam do anticiclone anômalo, as frentes frias acabam ficando estacionadas sobre a Argentina e muitas vezes desviam para leste/sudeste acompanhando a circulação das correntes de jato polar de altitude. 

Normalmente, os sistemas de baixa pressão e ciclones tem deslocamento para sudeste, porém devido ao anticiclone de bloqueio eles tendem a ficar quase estacionados ou então se juntar a outros sistemas, como foi o caso daquele sistema de baixa pressão que ontem estava no litoral sul catarinense e hoje se encontra no mar a leste do PR (letra B), dando suporte a ZCAS (Zona de Convergência do Atlântico Sul). Se olharmos a imagem de satélite ao meio-dia desta terça-feira, podemos notar esse padrão, observando que a Alta Subtropical do Atlântico (letra A) está lá no sudeste do Atlântico, bem na região de bloqueio. Note a frente semi-estacionária sobre o Uruguai, que não consegue avançar direito.


Segundo estudos feitos pelo Centro de Ciências Atmosféricas da universidade de São Paulo (USP), eventos de bloqueios atmosféricos são mais numerosos durante períodos de La Niña, que é o resfriamento das águas do oceano Pacífico Equatorial. Estamos exatamente sendo influenciados pelo La Niña esse ano, que apresenta-se forte com anomalias de até -3ºC naquele oceano, como mostra a figura abaixo através das áreas azuis.

Com a presença do sistema de baixa pressão em lento deslocamento, o leste catarinense ainda sofreu com o ingresso de umidade do oceano para a região, causando chuvas, sobretudo nas encostas da serra geral e serra do mar. Em Timbé do Sul, por exemplo, hoje choveu 43,2mm, o que somado ao que choveu ontem acaba-se tendo um total de 168mm! Isso é maior do que a média do mês inteiro. Na tabela abaixo você confere os demais valores de chuva acumulada hoje em Santa Catarina.

Cidade (ESTAÇÃO)Chuva 23/11 (mm)
Timbé do Sul (CIRAM)43,2
Joinville (CIRAM)37,8
Criciúma (CIRAM)31,2
Laguna (INMET)22,6
Massaranduba (CIRAM)20,8

A circulação de umidade determinada pelo sistema de baixa pressão deve influenciar no tempo em SC até sexta-feira, deixando a nebulosidade variável no leste e com chance de chuva isolada, sobretudo nas encostas da serra. No interior do estado, uma nova área de baixa pressão formada no norte argentino deve trazer temporais isolados, mas ainda faz sol e calor.

DADOS: INMET, CPTEC/INPE, EPAGRI-CIRAM, MARINHA DO BRASIL, MASTER

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